Capítulo 2

— Ela é tão linda quanto parece na televisão — eu cutuquei o pote grátis de
biscoitos de arroz. — Tão linda quanto sempre foi.
Max deu de ombros. — Ela é ok. Nada que valha tanto trabalho.
Como eu já estava acostumada com seu jeito de não se deixar impressionar,
não foi o suficiente para me distrair. Encostei-me contra a grade da casa de chá,
e uma brisa flutuou através do espelho d’água ao nosso lado. — Você não
entende. Ela é Calliope Bell.
— Você tem razão. Não entendo. — Seus olhos franziram atrás de sua
espessa armação Buddy Holly. Isso é algo que havíamos em comum, uma
péssima visão. Eu amo quando ele usa seus óculos. O roqueiro fodão encontra o
nerd sexy. Ele apenas os usa fora do palco, a menos que ele esteja tocando um
número acústico. Então ele os adiciona para um toque necessário de
sensibilidade. Max sempre é consciente de sua aparência, o que algumas pessoas
podem achar fútil, mas eu entendo completamente. Você só tem uma chance de
causar uma boa impressão.
— Deixa eu entender isso direito — ele continua. — Quando vocês eram
calouras...
— Quando eu era caloura. Ela era um ano mais velha.
— Ok, quando você era uma caloura... O que? Ela foi má com você? E você
continua chateada com isso? — Suas sobrancelhas franziam como se ele
estivesse perdendo metade da equação. O que ele estava. Mas eu não ia
completar para ele.
— Sim.
Ele acenou. — Deve ter sido uma grande vaca para você quebrar seus pratos
desse jeito.
Levou quinze minutos para eu limpar minha bagunça. Fragmentos de
porcelana, e o omelete ficou preso entre as rachaduras do piso de madeira, e
xarope pegajoso de framboesa, salpicado como o sangue através dos rodapés.
— Você não faz idéia. — Eu o deixei com isso.
Max se serviu de outra xícara de chá de jasmim. — Então porque você a
idolatra?
— Eu não a idolatro agora. Somente quando éramos mais jovens. Ela era
essa... Garota linda e talentosa, que por acaso também era minha vizinha, Quero
dizer, nós brincávamos de Barbie e faz de conta quando éramos crianças.
Machucou quando ela se virou contra mim, só isso. Eu não acredito que você não
tenha ouvido falar sobre ela — eu acrescentei.
— Sinto muito. Eu não assisto muito patinação artística.
— Ela esteve no Campeonato Mundial duas vezes. Medalha de prata? Ela é a
grande esperança Olímpica desse ano.
— Sinto muito — ele disse de novo.— Ela estava na caixa do Wheaties9.
9 Cereal
— Sem dúvida vendendo por R$0,99 no eBay. — Ele cutucou meu joelho
com o seu por baixo da mesa. — Quem se importa?
Eu suspirei. — Eu amava suas fantasias. Os babados de chiffon, as pérolas e
os cristais Swarovski, as saias pequenas...
— Saias pequenas? — Max tomou o resto do chá.
— E ela tinha aquela graça, pose e confiança. — Eu empurrei meus ombros
para trás. — E aquele cabelo brilhante perfeito. Aquela pele perfeita.
— Perfeição está superestimada. Perfeição é entediante.
Eu sorri. — Você não acha que sou perfeita?
— Você é deliciosamente maluca, e eu não gostaria de você de nenhuma
outra maneira. Beba seu chá.
Quando eu terminei, nós demos outro pequeno passeio. O Jardim Japonês do
Chá não era grande, mas compensava com sua beleza. Flores perfumadas em
cores neutras, equilibradas pelas plantas intricadamente cortadas em azuis e
verdes tranqüilos. Caminhos meandro em torno de estatuária budista, lagos de
carpas, um banco vermelho, e uma ponte de madeira em forma de lua. Os
únicos sons são o canto dos pássaros e o suave clique das câmeras. É pacífico.
Mágico.
Mas a melhor parte?
Cantos escondidos e perfeitos para beijos.
Nós achamos o banco perfeito, privado e escondido, e Max colocou suas
mãos atrás da minha cabeça e puxou meus lábios até os seus. Isso é o que eu
estive esperando. Seu beijo era gentil e áspero, com gosto de hortelã e cigarros.
Nós saímos durante todo o verão, mas eu ainda não estava acostumada com
ele. Max. Meu namorado, Max. A noite que nos conhecemos foi a primeira vez
que meus pais me deixaram ir a uma boate. Lindsay Lim estava no banheiro,
então eu estava temporariamente sozinha, empoleirada nervosamente contra a
áspera parede de concreto do Verge. Ele andou diretamente para mim, como se
ele tivesse feito isso mil vezes antes.
— Sinto muito — ele disse — Você deve ter me notado, te encarando durante
toda a apresentação.
Isso era verdade. Seu olhar me emocionou, embora eu não tenha acreditado.
O pequeno clube estava lotado, e ele poderia estar observando qualquer uma das
garotas famintas dançando ao meu lado.
— Qual o seu nome?
— Lola Nolan. — Eu ajustei minha tiara e ajeitei meus pés.
— Lo-lo-lo-lo Lo-la — Max cantou como na música do Kink. Sua voz
profunda estava rouca do show. Ele usava uma simples camisa preta, que eu
descobriria em breve ser seu uniforme. Por baixo, seus ombros eram largos, seusbraços torneados, e eu logo vi a tatuagem que se tornaria a minha preferida,
escondida na dobra de seu cotovelo esquerdo. Seu nome vinha do Where the
Wild Things Are. O pequeno garoto no terno branco de lobo.
Ele era o homem mais atraente que já tinha falado comigo. Frases semicoerentes
rodavam em minha cabeça, mas eu não conseguia seguir com
nenhuma delas por tempo suficiente para falar.
— O que você achou do show? — Ele teve que aumentar sua voz sobre os
Ramones, que tinham começado a explodir nos alto-falantes.
— Você foi ótimo — eu disse. — Eu nunca tinha visto sua banda antes.
Eu tentei gritar este segunda parte casualmente, como se eu nunca tivesse
visto suabanda antes. Ele não precisava saber que esse era o meu primeiro show.
— Eu sei. Eu teria notado você. Você tem namorado, Lola? Joey Ramone
ecoou atrás dele. Hey garotinha, eu quero ser seu namorado.
Os garotos da escola nunca eram tão diretos. Não que eu tivesse muita
experiência, apenas um namoro estranho de um mês aqui, e ali. A maioria dos
garotos sentiam-se intimidados por mim, ou me achavam estranha. — O que há
com você? — Eu erguia meu queixo, disparando confiança.
Doce garotinha. Eu quero ser seu namorado.
Max me olhou de cima a baixo, e um lado de seu lábio se curvou em um
sorriso. — Vejo que você já tem que ir — ele sacudiu sua cabeça, e eu me virei
para encontrar Lindsay Lim, boquiaberta. Apenas uma adolescente poderia
parecer tão desajeitada e surpresa. Será que Max percebeu que estávamos no
ensino médio? — Porque você não me dá seu telefone? — ele continuou. — Eu
gostaria de te ver.
Ele deve ter ouvido meu coração batendo enquanto eu vasculhava o conteúdo
da minha bolsa: chiclete de melancia, ingressos de cinema, recibos de burritos
vegetarianos, e um esmalte de arco-íris. Eu retirei um Sharpie, percebendo tarde
demais que apenas crianças e groupies andavam com Sharpies. Felizmente, ele
não pareceu se importar. Max esticou um pulso. — Aqui.
Sua respiração era quente em meu pescoço enquanto eu pressionava o
marcador em sua pele. Minha mão tremeu, mas de alguma maneira eu consegui
escrever claramente, pinceladas ousadas embaixo de sua tatuagem. Então ele
sorriu - sua assinatura, aquele sorriso só com um lado da boca - e caminhou para
longe, através dos corpos suados, em direção ao bar pouco iluminado. Eu me
permiti encarar suas costas por um momento. Apesar do meu telefone, eu tinha
certeza de que nunca nos veríamos novamente.
Mas ele ligou.
Obviamente, ele ligou.
Aconteceu dois dias depois, no ônibus a caminho do trabalho. Max queria me
encontrar no Haight para o almoço, e eu quase morri ao dispensá-lo. Ele
perguntou sobre o dia seguinte. Eu estaria trabalhando também. E então, eleperguntou sobre o outro dia, e eu não podia acreditar em minha sorte porque ele
ainda estava tentando. Sim, eu disse a ele. Sim.
Eu usava um vestido rosa, e meu cabelo natural, sou morena, cor média
estava usando dois coques como as orelhas de Mickey Mouse.
Nós comemos falafe2 e descobrimos que ambos éramos vegetarianos. Ele
me disse que não tem mãe, e eu lhe disse que na verdade, eu também não. E
então, enquanto eu limpava as últimas migalhas da minha boca, ele disse o
seguinte: — Não há forma educada de perguntar, então eu só vou fazer isto.
Quantos anos você tem?
Minha expressão deve ter sido terrível, porque Max pareceu arrasado
enquanto eu lutava para dar uma resposta aceitável. — Merda. Tão ruim assim,
han?
Eu decidi que demorar era minha melhor tática. — Quantos anos você tem?
— De jeito nenhum. Você primeiro.
Atrasei de novo. — Quantos anos você acha que eu tenho?
— Eu acho que você tem um rosto fofo que parece enganosamente jovem. E
eu não quero te insultar de nenhuma maneira. Então você tem que me dizer.
É verdade. Meu rosto é redondo, e minhas bochechas são apertáveis, e
minhas orelhas são maiores do que eu gostaria. Eu luto contra isso com
maquiagem e roupas. Meu corpo curvilíneo ajuda também. Mas eu ia dizer a
verdade, eu realmente ia, quando ele começou a adivinhar. — Dezenove?
Eu sacudi a cabeça.
— Mais nova ou mais velha?
Eu dei de ombros, mas ele sabia onde isso estava indo. — Dezoito? Por favor,
diga que você tem dezoito.
— Claro que eu tenho dezoito. — Eu empurrei a embalagem vazia de comida
para o lixo. Por fora, eu era a rainha do gelo, mas eu estava surtando por dentro.
— Eu estaria aqui se não tivesse 18?
Seus olhos âmbares estreitaram-se em desconfiança, e o pânico cresceu
dentro de mim. — Então, quantos anos você tem? — eu perguntei de novo.
— Mais que você. Você está na faculdade?
— Eu estarei. — Um dia.
— Então, você ainda mora em casa?
— Quantos anos você tem? — eu perguntei pela terceira vez.
Ele fez uma careta. — Eu tenho vinte e dois, Lola. Eu nós provavelmente não
deveríamos estar tendo essa conversa. Eu sinto muito, se eu soubesse...
— Eu sou legal. — E então, eu me senti imediatamente estúpida.
Houve uma longa pausa. — Não — Max disse. — Você é perigosa.
Mas ele estava sorrindo.
Levou outra semana de encontros casuais, até que eu o convencesse a me
beijar. Ele estava definitivamente interessado, mas eu podia dizer que o deixavanervoso. Por alguma razão, isso só me deixava mais ousada. Eu gostava de Max
de uma maneira que eu não sentia por ninguém há anos. Dois anos, para ser
exata.
Foi na biblioteca pública, e Max quis que nos encontrássemos lá porque era
seguro. Mas quando ele me viu, de vestido curto, botas longas seus olhos
procuraram por seu livro, mas eu o joguei para o lado. Seu domínio foi perdido.
— Lola — ele alertou.
Eu olhei para ele inocentemente.
E foi quando ele pegou minha mão e me guiou das mesas públicas até as
prateleiras vazias. Ele me encostou nas biografias. — Você tem certeza que quer
isso? — A provocação estava nítida em sua voz, mas seu rosto era sério.
Minhas palmas suavam. — É claro.
— Eu não sou um cara legal. — Ele chegou mais perto.
— Talvez eu não seja uma boa garota.
— Não. Você é uma garota muito boa. É isso que eu gosto em você. — E
com apenas um dedo, ele levantou meu rosto para o dele.
Nosso relacionamento progrediu rapidamente. Era eu quem estava atrasando
as coisas. Meus pais estavam fazendo perguntas. Eles não acreditavam mais que
eu estava passando tanto tempo com Lindsey. E eu sabia que era errado
continuar mentindo para Max enquanto as coisas estavam indo para frente, então
eu fui sincera sobre minha idade.
Max ficou furioso. Ele desapareceu por uma semana, e eu já tinha perdido as
esperanças quando ele ligou. E disse que estava apaixonado. Eu disse que ele
teria que conhecer Nathan e Andy. Pais o irritavam, seu pai era alcoólatra, sua
mãe partiu quando ele tinha cinco anos, mas ele concordou. E então restrições
foram colocadas sobre nós. E na semana passada, no meu aniversario de
dezessete anos, eu perdi minha virgindade em seu apartamento.
Meus pais pensam que nós fomos ao zoológico.
Desde então, nós dormimos juntos mais uma vez. E eu não sou uma idiota
sobre essas coisas; Eu não tenho ilusões românticas; Eu li bastante para saber que
leva um tempo até que seja bom para as garotas. Mas eu espero que melhore
logo.
O beijo é fantástico, então tenho certeza que vai acontecer.
Exceto que hoje eu não consigo me concentrar em seus lábios. Eu esperei por
ele durante toda à tarde, mas agora que eles estão aqui, eu estou distraída. Sinos
tocam a distância – são do grupo? De fora dos jardins? E tudo que eu consigo
pensar é Bell. Bell. Bell.
Eles estão de volta. Tinham três deles essa manhã, Calliope e seus pais.
Nenhum sinal de seus irmãos. Não que eu me importe de ver Aleck. Mas o
outro...
— O quê?Eu me assustei. Mas está me olhando. Quando paramos de nos beijar?
— O que é? — ele pergunta de novo. — Onde você está?
Eu reviro os olhos. — Sinto muito, estava pensando sobre o trabalho.
Ele não acredita em mim. Esse é o problema por ter mentido para seu
namorado no passado. Ele suspira com frustração, levanta, e coloca uma mão
em seu bolso. Eu sei que está procurando por seu isqueiro.
— Sinto muito — digo novamente.
— Esqueça — Ele olha para a hora no celular. — É hora de ir, de qualquer
maneira.
A estrada para o centro cívico Roy al 16, é quieta, tirando Clash tocando em
seu rádio. Mas está estranho, e eu me sinto culpada. — Me liga mais tarde? — eu
peço.
Ele acena enquanto vai embora, mas sei que ainda estou encrencada.
Como se eu precisasse de outro motivo para odiar os Bells.

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