Capítulo 33

Coloco a peruca, e eu estou... Quase feliz.
Há algo errado com o meu reflexo.
Não é meu costume, o que tornaria Maria Antonieta orgulhosa. O vestido azul
pálido é feminino, escandaloso e gigantesco. Há saias sobre saias, fitas e
ornamentos, pérolas e rendas. Seu corpete é lindo, e a forma se mantém
confortavelmente por baixo, me dando uma lisonjeira figura, as partes do corpo
são corretamente mais delgadas ou mais redondas. Meu pescoço está envolto em
um colar cristalino como os diamantes, e as minhas orelhas estão com brincos
que reluzem como lustres. Eu brilho com a luz refletida.
É a maquiagem?
Eu estou usando pó facial branco, blush vermelho, e um gloss claro vermelho.
Maria Antonieta não tem mascara de rímel, então eu me senti compelida a fazer
uma armadilha. Eu escovei só um pouquinho em um par de cílios postiços. Meu
olhar viaja para cima. A peruca branca tem dois metros de altura, e está
adornada com fitas azuis, rosas e plumas cor de rosa, e um único pássaro azul
cantor. É lindo. Uma obra de arte. Passei muito tempo fazendo isso.
E... Não é certo.
— Eu não me vejo — eu digo. — Não estou.
Andy está desamarrando minhas botas de combate com plataforma, se
preparando para me ajudar a coloca-lás. Ele aponta, em um grande círculo. —
O que você quer dizer? TUDO que vejo é você.
— Não. — Eu engulo. — Há muito Maria, e não Lola o suficiente.
Sua testa enruga. — Eu pensei que esse fosse o ponto.
— Eu também pensei assim, mas... Eu estou perdida. Estou escondida. Eu
pareço um traje de Halloween.
— Quando você não parece como um traje de Halloween?
— Pai! Estou falando sério. — Meu pânico rapidamente se intensifica. — Eu
não posso ir ao baile assim, é demais. Extremamente demais.
— Querido — ele grita para Nathan. — É melhor você entrar aqui. Lola está
usando novas palavras.
Nathan aparece na minha porta, e ele sorri quando me vê.
— Nossa filha disse. — Andy faz uma pausa para efeito dramatic…
Extremamente demais
Eles caem na gargalhada.
— ISSO NÃO É ENGRAÇADO. — E então eu suspiro. Meu corpete esmaga
a minha caixa torácica, tornando a respiração difícil e dolorosa.
— Whoa. — Nathan está de repente ao meu lado, a mão em torno de mim.
— Respire. Respire.
Eu já estava nervosa sobre ir para o baile e ver meus colegas. Pelo menos eu
não estarei sozinha - me encontrarei com Lindsey e Charlie lá - mas eu nãoposso ir assim.
Seria humilhante. Eu preciso de Lindsey aqui, ela assumiria o controle. Mas
ela está no meio de um jantar de mistério e assassinato, e Charlie apostou um
mês de merenda escolar que ele vai resolver o mistério antes dela. É importante
para Lindsey que ela ganhe.
— Telefone — ofego. — Me de o meu telefone.
Andy me entrega, e eu ligo para Cricket instantaneamente. Sou enviada
diretamente para seu correio de voz, como havia sido durante toda à tarde. Ele
ligou esta manhã para certificar de que eu estava indo para o baile, mas não nos
falamos desde então. Eu continuo fantasiando que não podemos entrar em
contato porque ele está em um avião, planejando me surpreender ao aparecer
magicamente na minha escola durante a primeira música lenta, mas é mais
provável que uma tempestade de neve está causando estragos em sua conexão.
Hoje é a Exposição dos Campeões, e Calliope participará dela. Ele tem que estar
lá.
Mas amanhã... Ele estará em casa.
O pensamento temporariamente me acalma. E então eu vejo o meu reflexo
mais uma vez, e eu percebo que amanhã não vai ajudar nada esta noite.
— O-kaaaay. — Andy arranca o telefone do meu agarre mortal. —
Precisamos de um plano.
— Eu tenho um plano. — Eu rasgo os pinos que prendem a peruca na minha
cabeça. — Eu vou desmontá-la. Eu vou fazer uma reinterpretação moderna dela
com meu próprio cabelo. — Estou jogando os pinos ao chão como dardos, e
meus pais dão um passo para trás nervosos.
— Isso soa... — Nathan diz.
— Complicado — Andy diz.
Eu arranco a peruca e a jogo em minha mesa.
— Tem certeza de que você quer. — As palavras de Nathan morrem
enquanto arranco as rosas da peruca. Metade delas rasga, e Andy coloca uma
mão sobre sua boca. O pássaro cantor é o próximo. — Está tudo bem — eu digo.
— Vou colocá-los no meu próprio cabelo, ficará bem. — Eu empurro o resto da
peruca no chão, olho para cima, e grito. Meu cabelo está emaranhado e confuso,
denso e achatado. É tudo de ruim que pode acontecer à cabeça de alguém, de
uma só vez.
Andy cautelosamente remove outro pino enquanto eu tento passar a escova
através do desastre.
— Cuidado! — ele diz.
— ESTOU TENDO CUIDADO. — A escova enrosca no meu cabelo, e eu
explodo em lágrimas.
Andy gira para Nathan. — Para quem é que nós vamos ligar? Quem é que
nós sabemos que faz o cabelo?— Eu não sei! — Nathan olha surpreendido. — Aquela Rainha com a grande
encomenda na semana passada?
— Não, ela estaria trabalhando. Que tal Luis?
— Você odeia Luis. Que tal...
— Eu vou usar a peruca! Eu só vou usar a peruca, esqueça isso! — Eu sinto
minha máscara de rímel preto deslizar através do meu pó facial branco enquanto
me movo para trás, e meu pé direito pisa sobre a peruca. A estrutura de arame
por baixo dela se achata.
Meus pais ofegam. E a última visão restante que eu tinha de entrar no meu
baile de inverno como Maria Antonieta desaparece.
Eu puxo o meu espartilho, forçando espaço para entrar ar dentro do meu
peito.
— Acabou.
Há um baque ao lado da minha janela quando alguém cai para o quarto. —
Apenas a peruca acabou.
Eu me lanço em direção a ele, instintivamente, mas meu vestido é tão pesado
que eu caio de cara em meu tapete. Meu vestido cai em torno de mim como um
acordeão. Eu não sabia que era possível morrer de vergonha. Mas eu acho que
pode realmente acontecer.
— Você está bem? Você se machucou? — Cricket cai de joelhos. Seu aperto
é forte enquanto ele me ajuda a se sentar. Eu quero morrer em seus braços, mas
ele me solta com cuidado.
— O que... o que você está...?
— Deixei as Nacionais mais cedo. Eu sei como o baile é importante para
você, e eu queria surpreendê-la. Eu não queria que você entrasse sozinha. Não
que você não poderia lidar com isso — ele adiciona. O que é gracioso,
considerando o meu estado atual. — Mas eu queria estar lá também. Para sua
grande entrada.
Estou limpando restos do tapete e mascara de cílios de minhas bochechas. —
Minha grande entrada.
Meus pais estão congelados com estupefação pelo aparecimento súbito.
Cricket volta para eles se desculpando. — Eu teria usado a porta da frente, mas
não pensei que vocês me ouviriam. E a janela estava aberta.
— Você sempre foi... Cheio de surpresas — Andy diz.
Cricket sorri para ele antes de girar para mim. — Vamos lá. Vamos prepará-
la para o baile.
Eu viro a minha cabeça. — Eu não vou.
— Você tem que ir. — Ele cutuca meu cotovelo. — Voltei para que eu
pudesse levá-la, lembra?
Eu não posso encontrar os seus olhos. — Eu pareço estúpida.
— Hey . Não — ele diz baixinho. — Você está linda.— Você está mentindo. — Eu levanto o meu olhar, mas eu tenho que morder
meu lábio por um momento para evitar que eles tremem. — Meu rosto parece
uma máscara de palhaço. Meu cabelo grita bruxa malvada dos contos de fadas.
Cricket parece divertido. — Eu não estou mentindo. Mas... devemos limpar
isso — ele acrescenta.
Ele toma os meus braços e começa a me ajudar a levantar. Nathan dá um
passo adiante, mas Andy pega um de seus ombros. Meus pais observam Cricket
reorganizar a saia do meu vestido para que eu possa estar de pé de forma segura.
Ele me leva para o banheiro anexo ao meu quarto. Nathan e Andy nos seguem a
uma distância cuidadosa. Cricket abre a torneira da pia e procura as garrafas e
tubos na minha bancada até que ele encontra o que está procurando. — Aha!
É removedor de maquiagem.
— Calliope usa o mesmo tipo — ele explica. — Ela é conhecida por precisar
disto depois de performances particularmente brutais. Para a, uh — ele aponta de
um modo geral em direção ao meu rosto — mesma razão.
— Oh Deus. — Eu pisco para o espelho. — Parece que eu tenho vomitado
um tinteiro.
Ele sorri. — Um pouco. Vamos lá, a água está quente.
Nós deslizamos ao redor desajeitadamente até que eu estou posicionada na
frente da pia, e então ele coloca uma toalha sobre a frente do meu vestido. E -
com muita dificuldade - me inclino sobre ele. Seus dedos se deslizam pelo meu
cabelo e os seguram para trás, enquanto eu lavo meu rosto. Sua presença física
contra mim é calmante. O pó facial, rímel, cílios postiços, e blush desaparecem.
Enxugo o meu rosto e meus olhos encontram o seu no espelho. Minha pele está
nua e rosa.
Ele me olha de volta com um desejo forte.
Nathan pigarreia da porta, e nós assustamos. — Então o que vamos fazer
sobre o seu cabelo? — ele pergunta.
Meu coração cai. — Eu acho que eu vou usar uma peruca diferente. Algo
simples.
— Talvez... Talvez eu possa ajudar — Cricket diz. — Eu tenho alguma
experiência. Com cabelo.
Eu franzo a testa. — Cricket. Você teve o mesmo cabelo toda a sua vida. Não
me diga que o fixá-lo assim você mesmo.
— Não, mas... — Ele esfrega a parte de trás do pescoço. — Às vezes eu
ajudo Cal com o dela antes das competições.
Minhas sobrancelhas levantam.
— Se você me perguntasse ontem, eu teria dito que era uma habilidade
seriamente embaraçosa para um cara heterossexual.
— Você é o melhor — eu digo.
— Só você poderia pensar isso. — Mas ele parece satisfeitoÉ neste momento que eu, finalmente, registro o que ele está usando.
É um lindo terno preto ajustado para o tecido da pele brilhante. As calças são
curtas – de propósito, é claro - expondo os seus habituais sapatos pontudos e um
par de meias azuis pálidos que coincidi com o meu vestido exatamente
E eu totalmente quero pular nele.
— TickTock— Nathan diz.
Eu passo por Cricket, e volto para o meu quarto. Ele aponta para a minha
cadeira, então eu levanto minhas saias por cima e por trás, e eu encontro uma
maneira de me sentar. E então ele me penteia com os dedos. Suas mãos são
gentis e rápidas, os movimentos suaves e seguros. Eu fecho meus olhos. O quarto
fica em silêncio enquanto seus dedos desembaraçam os fios da raiz até as pontas
e correm soltas através de todo o meu cabelo. Eu me inclino de volta para ele.
Parece que meu corpo inteiro está florescendo.
Ele se inclina e sussurra em meu ouvido: — Eles se foram.
Eu olho para cima, e, com certeza, meus pais deixaram a porta entreaberta.
Mas eles se foram. Sorrimos. Cricket recomeça o seu trabalho, e eu me relaxo
em suas mãos. Meus olhos fecham novamente. Depois de alguns minutos, ele
limpa a garganta. — Eu, hum, tenho algo a lhe dizer.
Meus olhos permanecem fechados, mas as minhas sobrancelhas levantam
em curiosidade.
— Que tipo de coisa?
— Uma história — ele diz.
Suas palavras se convertem em um sonho, quase hipnótico, como se ele
houvesse dito isso para si mesmo uma centena de vezes antes. — Era uma vez,
havia uma menina que falava com a lua. E ela era misteriosa e perfeita, dessa
forma que as meninas que conversam com as luas são. Na casa ao lado, vivia
um garoto. E o garoto observava a menina se tornar mais e mais perfeita, mais e
mais bela a cada ano que passava. Ele assistiu ela ver a lua. E ele começou a se
perguntar se a lua iria ajudá-lo a desvendar o mistério da menina bonita. Assim,
o menino olhou para o céu. Mas ele não conseguia se concentrar na lua. Ele
estava muito distraído pelas estrelas.
Eu ouço Cricket remover uma faixa de borracha de seu pulso, que ele usa
para segurar uma parte do meu cabelo.
— Vá em frente — eu digo.
Eu ouço o sorriso na voz dele. — E não importa quantas canções ou poemas
já haviam sido escritos sobre eles, cada vez que ele pensava na garota, as estrelas
brilhavam mais brilhantes. Como se fosse ela quem as mantinham iluminadas.
Um dia, o rapaz teve de se afastar. Ele não poderia trazer a menina com ele,
então ele trouxe as estrelas. Quando ele olhasse para fora de sua janela à noite,
ele iria começar com uma. Uma estrela. E o menino ia pedir um desejo, e o
desejo seria o nome dela. Ao som de seu nome, uma segunda estrela iriaaparecer. E então ele desejaria o nome dela, e as estrelas se dividiriam em
quatro. E quatro se tornaram oito, e oito se tornaram 16, e assim por diante, a
maior equação matemática que o universo já tinha visto. E pelo tempo que uma
hora tinha passado, o céu estaria cheio de tantas estrelas que acordaria os
vizinhos. As pessoas se perguntariam quem tinha ligado os holofotes. O menino
fez. Ao pensar sobre a menina.
Meus olhos se abrem, e meu coração está na minha garganta. — Cricket... Eu
não sou isso.
Ele pára de colocar grampos no meu cabelo. — O que você quer dizer?
— Você construiu essa idéia sobre mim, este ideal, mas eu não sou essa
pessoa. Eu não sou perfeita. Estou longe de ser perfeita. Eu não mereço uma
história tão bonita.
— Lola. Você é a história.
— Mas uma história é apenas isso. Não é a verdade.
Cricket volta ao seu trabalho. As rosas são adicionadas. — Eu sei que você
não é perfeita. Mas são as imperfeições de uma pessoa que as tornam perfeitas
para alguém.
Outra presilha desliza em seu lugar quando eu avisto as costas de sua mão.
Uma estrela. Cada estrela que ele há desenhado em sua pele tem sido por mim.
Olho à minha porta para se certificar de que ainda está vazia, e eu agarro a sua
mão.
Ele olha para ela.
Eu sigo o meu polegar em torno da estrela.
Ele olha para mim. Seus olhos são tão dolorosamente, requintadamente azuis.
E eu o puxo para baixo sobre mim, e planto meus lábios contra os seus, que
estão soltos com surpresa e choque. E eu beijo Cricket Bell com tudo o que há
dentro de mim, tudo o que estou segurando desde que ele se mudou de volta, tudo
desde o verão, tudo desde a nossa infância. Eu o beijo como eu nunca beijei
ninguém antes.
Ele não se move. Seus lábios não estão se movendo.
Afasto cabeça em alarme. Havia agido precipitadamente, eu o empurrei
muito rápido.
Ele cai de joelhos e me puxa de volta para os lábios.
Seu beijo não é nem remotamente inocente. Há paixão, mas há também uma
urgência beirando o pânico. Ele me puxa para mais perto, tão perto quanto o meu
vestido e minha cadeira permitem, e ele está me agarrando com tanta força que
eu sinto seus dedos pressionados pela parte de trás do meu espartilho.
Eu me puxo para trás, ofegante. Cambaleando. Sua respiração é irregular, e
eu coloco minhas mãos em seu rosto para firmá-lo.
— Isso está bem? — Eu sussurro. — Você está bem?
Sua resposta é angustiada. Honesta. — Eu te amo.

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