CAPÍTULO XII: O HELENISMO

...uma centelha do fogo...

O professor de filosofia enviava as suas cartas diretamente para a sebe,
mas, devido a um hábito antigo, na manhã de segunda-feira, Sofia foi espreitar à
caixa do correio.
Estava vazia, e também não seria de esperar outra coisa.
Começou a andar por Klöverveien. De repente, viu no chão uma
fotografia. A fotografia mostrava um jipe branco com uma bandeira azul, onde
estava escrito “ONU”. Seria a bandeira da ONU?Sofia voltou a fotografia, e só então reparou que se tratava de um postal.
Para “Hilde Möller Knag, a/c de Sofia Amundsen.... O postal tinha um selo
norueguês, e o carimbo: Contingente ONU, sexta-feira, 15 de Junho de 1990.
15 de Junho! Era o aniversário de Sofia!
No postal estava escrito:
“Querida Hilde: imagino que deves estar a festejar o teu aniversário. Ou já
passa um dia? De qualquer modo, não faz diferença para o teu presente;
desfrutarás dele durante toda a tua vida.
Dou-te os parabéns mais uma vez. Talvez compreendas agora porque é
que mando o postal, para a Sofia. Tenho a certeza de que ela to dará.
P.S.: A mãe contou-me que perdeste a carteira. Prometo reembolsar-te
das 150 coroas. Receberás certamente um novo cartão de estudante na escola
antes que ela feche para o Verão.Um abraço do pai”.
Sofia ficou imóvel, como colada ao asfalto. Quando é que o último postal
tinha sido carimbado? Algo lhe dizia que o postal com a praia tinha um carimbo
de Junho — se bem que ainda faltasse um mês até lá. Não tinha fixado...
Olhou para o relógio e correu de volta a casa. Nesse dia ia chegar
atrasada. Sofia abriu a porta e foi apressadamente para o quarto.
Aí, debaixo do lenço de seda vermelho encontrou o primeiro postal dirigido
a Hilde.
Sim — também tinha o carimbo do dia 15 de Junho, o aniversário de Sofia
e a véspera das férias de Verão.
Enquanto corria para o supermercado, onde queria encontrar Jorunn, Sofia
tinha muitas perguntas na cabeça.Quem era Hilde? Como é que o pai dela achava evidente que Sofia a
encontraria? Não fazia sentido nenhum que ele lhe enviasse os postais em vez de
os enviar diretamente à filha. Era impensável que ele não soubesse o endereço
da filha. Seria tudo uma brincadeira? Quereria fazer uma surpresa à filha no seu
dia de anos servindo-se de uma moça totalmente desconhecida como correio?
Seria por esse motivo que Sofia tinha tido um mês de antecedência?
Servia-se dela como intermediária porque o presente de aniversário que queria
dar à filha consistia numa nova amiga? Era esse o presente de que “desfrutaria
durante toda a vida”?
Se esse estranho homem estava de fato no Líbano, como é que podia ter
descoberto o endereço de Sofia? Mas não era tudo: Sofia e Hilde tinham pelo
menos duas coisas em comum. Se Hilde também fazia anos a 15 de Junho,
tinham nascido no mesmo dia.
E ambas tinham um pai que viajava muito. Sofia sentiu-se arrastada para
um mundo mágico. Afinal, talvez não fosse assim tão estúpido acreditar no
destino. Mas ela não devia tirar conclusões apressadas; tudo aquilo podia ter uma
explicação natural. Mas como é que Alberto Knox podia ter descoberto a carteira
de Hilde, se Hilde vivia em Lillesand, que ficava a mais de cem quilômetros de
distância? E porque é que Sofia encontrara aquele postal no chão? Teria caído da
mala do carteiro, antes de ter chegado à caixa do correio de Sofia? Porque é que
ele perdera precisamente aquele postal?— Tu és completamente doida! — exclamou Jorunn, quando encontrou
Sofia no supermercado.
— Desculpa. Jorunn fixou-a com um olhar severo, como uma professora.
— Espero que tenhas uma boa explicação.
— Tem a ver com a ONU — respondeu Sofia. — Fui retida no Líbano por
uma milícia inimiga.
— Tu estás é apaixonada. Correram para a escola tão rapidamente quanto
as suas pernas lhes permitiram.
O teste de religião, para o qual Sofia não tinha estudado, foi distribuído na
terceira hora. Na folha estava escrito:
Concepção da vida e tolerância1. Faz uma lista daquilo que um homem pode saber. Faz depois uma lista
daquilo em que apenas podemos acreditar.
2. Indica alguns fatores que determinam a concepção de vida para um
homem.
3. O que é que entendemos por consciência? Achas que é igual para todos
os homens?
4. O que é que se entende por “prioridade de valores”?
Sofia refletiu um bom bocado antes de começar a escrever. Poderia
aproveitar alguma coisa do que aprendera com Alberto Knox? Tinha de
aproveitar, porque há muitos dias que não olhava para o livro de religião. Mal
tinha começado a escrever, as frases brotaram.
Sofia escreveu que podemos saber que a Lua não é um queijo e que no seu
lado oculto também há crateras, que tanto Sócrates como Jesus foram
condenados à morte, que todos os homens têm de morrer mais tarde ou mais
cedo, que os grandes templos da Acrópole foram construídos cerca do ano 400
a.C. após as guerras contra os Persas e que o oráculo grego mais famoso era o de
Delfos. Como exemplos daquilo em que podemos acreditar, Sofia escreveu que,
nos outros planetas, há vida ou não, que Deus existe ou não, que há vida após a
morte ou não, e que Jesus era filho de Deus ou apenas um homem inteligente.“De qualquer modo, não podemos saber de onde vem o mundo” escreveu ela,
por fim.
“O universo pode ser comparado a um coelho gigantesco que é retirado de
uma grande cartola. Os filósofos procuram subir para um dos pêlos finos do
coelho, para poderem fixar nos olhos o grande ilusionista. Se eles o conseguirão
algum dia é uma questão em aberto. Mas se um filósofo sobe para as costas de
outro, irão chegando progressivamente mais acima na delicada pelagem do
coelho, e então, segundo a minha opinião pessoal, existe a possibilidade de eles o
conseguirem um dia. PS. Na Bíblia, podemos ler sobre uma coisa que pode ter
sido um dos pêlos finos na pelagem do coelho.
Esse pêlo é designado por torre de Babel e foi totalmente destruída porque
não agradava ao ilusionista que os homens fossem subindo ao longo dos pêlos do
coelho branco que ele acabara de criar.”
Era a vez da pergunta seguinte. “Indica alguns fatores que determinam a
concepção de vida para um homem.” A educação e o ambiente eram
obviamente fatores importantes. Os homens que viviam no tempo de Platão
tinham uma concepção de vida diferente da dos homens de hoje, simplesmente
porque viviam num outro tempo e num outro meio. De resto, as experiências
adquiridas também eram importantes. Mas a razão humana também é
importante na determinação de uma concepção de vida. A razão não era
determinada pelo meio, era comum a todos os homens. Talvez se pudesse
comparar o meio e as relações sociais às condições presentes na caverna de
Platão.
Por intermédio da razão, o indivíduo pode tentar sair da escuridão dacaverna. Mas essa viagem exige uma grande dose de coragem pessoal. Sócrates
era um bom exemplo de um homem que, com o auxílio da razão, se conseguiu
libertar das concepções predominantes no seu tempo.
No fim, ela escreveu: “Hoje em dia, homens de países e culturas
diferentes têm um contato cada vez mais estreito entre si. Por isso, no mesmo
bloco residencial, podem viver cristãos, muçulmanos e budistas. E nesse caso é
importante tolerar a crença dos outros em vez de se perguntar por que é que não
têm todos a mesma crença”.
Sim, Sofia achou que com aquilo que aprendera com o seu professor de
filosofia já ia bastante longe. Podia ainda usar uma parte de razão inata e aquilo
que ouvira ou lera noutros contextos.
Começou a responder à terceira pergunta. “O que é que entendemos por
consciência? Achas que é igual para todos os homens?” Sobre isto, tinha-se
discutido muito na aula. Sofia escreveu:
“Consciência é a capacidade dos homens para reagirem ao que é justo e
ao que é injusto. Segundo a minha opinião pessoal, todos os homens têm esta
capacidade, ou seja, a consciência é inata. Sócrates teria dito o mesmo. Mas
aquilo que a consciência diz pode variar muito de homem para homem. É
necessário pensar se os sofistas não estavam numa pista importante.Eles achavam que o meio em que cada indivíduo cresce, determina aquilo
que ele acha ser correto e aquilo que ele acha ser errado. Sócrates, pelo
contrário, achava que a consciência era igual em todos os homens. Talvez
tivessem todos razão. Apesar de nem todos os homens se envergonharem de
andar nus, a maior parte arrepende-se quando trata mal outro homem.
Além disso, temos de sublinhar que uma coisa é ter uma consciência e
outra coisa é usá-la. Em situações isoladas pode parecer que os homens agem de
uma forma totalmente inconsciente, mas, segundo a minha opinião pessoal,
também neles há uma forma de consciência, mesmo quando está bem
escondida.
Pode também parecer que alguns homens não têm racionalidade, mas isso
deve-se apenas ao fato de não a usarem.
PS. A razão e a consciência podem ser comparadas a um músculo. Se não
se usa um músculo, ele vai-se tornando mais fraco e flácido.”
Faltava apenas uma pergunta. “O que é que se entende por “prioridade de
valores”?Sobre isto também tinham discutido muito ultimamente.
Podia, por exemplo, ser importante andar de carro para nos podermos
deslocar depressa de um lugar para outro.
Mas se andar de carro provocasse a morte das florestas e a poluição da
natureza, estava-se perante uma “escolha de valores”. Após uma reflexão
profunda, Sofia achava ter chegado à convicção de que florestas saudáveis e
uma natureza pura eram mais importantes do que a possibilidade de chegar
depressa ao trabalho. Deu mais exemplos. Por fim, escreveu: “É minha opinião
pessoal que a filosofia é mais importante do que a gramática inglesa. Por isso,
seria uma prioridade de valores sensata se a disciplina de filosofia fosse admitida
no plano de estudos e o horário da aula de inglês fosse reduzido.”
No último intervalo, o professor chamou Sofia à parte.
— Já li o teu teste de religião — disse. — Estava em cima do monte dos
testes.
— Espero que tenha gostado.— Era precisamente sobre isso que queria falar contigo. Em muitos
aspectos, deste respostas muito maduras. Surpreendentemente maduras, Sofia. E
autônomas. Tinhas feito os trabalhos de casa?
Sofia começou a torcer as mãos.
— Mas tinha dito que as reflexões pessoais são importantes para si.
— Há limites.
Sofia fixou o professor nos olhos. Achava que o podia fazer depois de tudo
o que tinha vivido nos últimos dias.
— Eu comecei a estudar filosofia — afirmou. — É um bom fundamento
para opiniões autônomas.
— Mas não vai ser fácil classificar o teu trabalho. Na verdade, só te posso
dar um cinco ou um um.— Porque respondi tudo certo ou tudo errado? É isso que quer dizer? —
Dou-te o cinco. Mas na próxima vez tens de fazer os trabalhos de casa.À tarde,
quando Sofia chegou a casa, vinda da escola, atirou a pasta para a escada e foi
imediatamente para a toca.
Havia um envelope amarelo sobre as raízes grossas. As bordas estavam
quase secas, portanto Hermes devia ter estado ali há um bom bocado.
Sofia levou o envelope consigo e entrou em casa.
Primeiro, deu comida aos animais e depois foi para o quarto. Deitou-se na
cama, abriu a carta de Alberto e leu.
“O Helenismo”
Que bom ver-te, Sofia!Já te falei dos filósofos da natureza, Sócrates, Platão e Aristóteles, e assim
conheces o fundamento da filosofia européia. A partir de agora, as tarefas de
reflexão que recebeste até hoje em envelopes brancos já não são importantes.
Imagino que tenhas bastantes trabalhos e testes na escola.
Vou falar-te do extenso período entre Aristóteles, no final do século IV
antes de Cristo, e o início da Idade Média, cerca do ano 400 depois de Cristo.
Sabes que escrevemos “antes” e “depois de Cristo”, precisamente porque o
cristianismo é um dos elementos mais importantes e mais singulares deste
período.
Aristóteles morreu no ano 322 antes de Cristo e, entretanto, Atenas tinha
perdido a sua hegemonia. Isso se deve em grande parte às profundas
transformações políticas resultantes das conquistas de “Alexandre Magno” (356-
323 a.C.).
Alexandre Magno era rei da Macedônia. Aristóteles também vinha da
Macedônia, e durante algum tempo chegou mesmo a ser professor do jovem
Alexandre. Alexandre alcançou a última e decisiva vitória sobre os persas e,
através das suas inúmeras campanhas, criou um império vastíssimo que
compreendia a Grécia, o Egito, a Pérsia e se estendia até à Índia.
Começa então uma época nova na história da humanidade, caracterizada
pelo desenvolvimento de uma comunidade internacional em que a cultura e alíngua gregas desempenham um papel dominante. Este período, que durou cerca
de três séculos, é denominado “Helenismo”, termo que designa tanto um período
histórico como a supremacia da cultura grega nos três grandes reinos helenísticos
— a Macedônia, a Síria e o Egito.
A partir do ano 50 antes de Cristo, Roma assumiu a hegemonia política e
militar. A nova potência conquistou, uns a seguir aos outros, todos os reinos
helenísticos e, a partir de então, a cultura romana e a língua latina dominaram
desde a Espanha, a ocidente, até ao interior da Ásia. Começa então o período
romano também designado por “Antiguidade tardia”.
Mas deves reparar numa coisa: antes de os Romanos conquistarem o
mundo helenístico, Roma tinha-se tornado uma província cultural grega. Deste
modo, a cultura grega — e a filosofia grega — teriam ainda um papel importante
depois do declínio político da Grécia.
“Religião, filosofia e ciência”
O Helenismo foi marcado pelo desaparecimento das fronteiras entre os
diversos países e culturas. Anteriormente, Gregos, Romanos e Egípcios,
Babilônios, Sírios e Persas tinham venerado os seus deuses dentro do quegeralmente chamamos uma “religião nacional”. Nesta fase as diversas culturas
misturaram-se e fundiram-se num grande caldeirão que continha idéias
religiosas, filosóficas e científicas de todo o tipo.
Podemos dizer que a ágora urbana foi substituída pela arena mundial.
Também a ágora antiga foi animada por vozes que ofereciam as suas diversas
mercadorias, e diferentes pensamentos e idéias.
A novidade era que as ágoras eram agora invadidas por mercadorias e
idéias de todo o mundo. Por isso, as vozes soavam em diversas línguas diferentes.
Já referimos que as concepções gregas se difundiram muito para além dos
antigos territórios gregos. A partir de então, deuses orientais eram também
adorados em toda a região do Mediterrâneo.
Nasceram várias religiões novas cujos deuses e concepções religiosas
provinham de diversas culturas antigas.
Este fenômeno é designado por fusão de religiões ou “sincretismo”.
Anteriormente, os homens sentiam-se vinculados ao seu próprio povo e àsua própria cidade-estado. Como essas fronteiras e divisões eram cada vez mais
postas de parte, muitos sentiram dúvidas e insegurança em relação à sua
concepção de vida. A Antiguidade tardia foi marcada, em geral, pelas dúvidas
religiosas, pela desagregação cultural e pelo pessimismo.
“O mundo está velho”, dizia-se.
As novas religiões que surgiram então tinham duas características em
comum: fundavam-se em doutrinas que aspiravam a libertar os homens da
angústia da morte; além disso, muitas destas doutrinas eram secretas. Seguindo os
seus preceitos e participando em determinados rituais, o homem podia esperar
obter a imortalidade da alma e uma vida eterna. O conhecimento acerca da
verdadeira natureza do universo podia ser tão importante para a salvação da
alma como os rituais.
Eram as novas religiões, Sofia. A filosofia caminhava também no sentido
da “salvação” e da serenidade no que diz respeito à vida. A visão filosófica não
tinha apenas um valor em si mesma, como ainda devia libertar os homens da
angústia da morte e do pessimismo. Desta forma, apagaram-se os limites entre a
religião e a filosofia.
De um modo geral, podemos dizer que a filosofia do Helenismo não foi
particularmente original. Não apareceu nenhum outro Platão ou Aristóteles. Em
vez disso, os três grandes filósofos atenienses tornaram-se uma importante fonte
de inspiração para diversas correntes filosóficas, das quais vou falar
sucintamente.“A ciência” do Helenismo também estava influenciada pela mistura de
diversas experiências culturais. A cidade de Alexandria, no Egito, tinha um papel
chave como ponto de encontro do Oriente e do Ocidente. Enquanto Atenas
continuava a ser a capital da filosofia, com as escolas filosóficas deixadas por
Platão e Aristóteles, Alexandria tornou-se a metrópole da ciência.
Com a sua grande biblioteca, esta cidade passou a ser o centro dos estudos
de matemática, astronomia, biologia e medicina.
A cultura helenística pode ser comparada com o mundo de hoje. O século
XX também é caracterizado por uma comunidade internacional cada vez mais
aberta, que provocou no nosso tempo grandes transformações na religião e na
concepção de vida. Tal como, no início da nossa era, podíamos encontrar em
Roma concepções religiosas gregas, egípcias e orientais, no final do século XX
podemos encontrar em todas as cidades européias de uma determinada extensão
concepções religiosas de todas as partes do mundo.
No nosso tempo, vemos que uma mistura de religião, filosofia e ciência
antigas e novas pode constituir a base para novas ofertas no “mercado das
concepções do mundo”.
Muito deste “novo saber” é, na realidade, uma herança antiga cujas raízes
remontam ao Helenismo.Como já foi mencionado, a filosofia helenística continuou a ocupar-se dos
problemas que tinham sido levantados por Sócrates, Platão e Aristóteles. Todos
desejavam estabelecer como é que o homem deve viver e morrer da melhor
forma. Deste modo, a “ética” foi colocada na ordem do dia. Tornou-se o projeto
filosófico mais importante da nova comunidade internacional. A questão era esta:
em que consiste a verdadeira felicidade e de que modo pode ser alcançada?
Vamos analisar quatro dessas correntes filosóficas.
“Os cínicos”
Conta-se que Sócrates parou certo dia em frente de uma banca onde
estavam expostas muitas mercadorias. Por fim, exclamou: “Vejam só de
quantas coisas os Atenienses precisam para viver!”. Com isto, queria obviamente
dizer que ele não precisava dessas coisas.A “filosofia cínica”, que foi fundada por “Antístenes” cerca do ano 400
a.C. em Atenas, parte desta atitude de Sócrates. Antístenes tinha sido discípulo de
Sócrates. Os “cínicos” defendiam que a verdadeira felicidade não dependia de
coisas exteriores, como o luxo material, o poder político e uma boa saúde. A
verdadeira felicidade significava não se tornar dependente dessas coisas casuais
e efêmeras. Precisamente por não repousar sobre essas coisas, a felicidade podia
ser alcançada por todos. E uma vez alcançada não se podia voltar a perder.
O cínico mais conhecido era “Diógenes”, um discípulo de Antístenes.
Conta-se que morava num tonel e que só possuía um manto, um bastão e um
saco para o pão. (Não era fácil roubar-lhe a sua felicidade!). Certo dia, estava a
tomar um banho de sol à frente do seu tonel quando Alexandre Magno o visitou.
Alexandre apresentou-se ao sábio e disse-lhe que lhe daria o que ele desejasse.
Diógenes pediu a Alexandre que não lhe tapasse o sol. Foi assim que Diógenes
demonstrou que era mais rico e mais feliz do que o grande homem. Tinha tudo o
que desejava.
Segundo os cínicos, o homem não se deve preocupar com a sua saúde,
com a dor e com a morte. Também não se devia atormentar com a dor dos
outros. Hoje, os termos “cínico” e “cinismo” exprimem quase sempre a
impassibilidade perante o sofrimento dos outros.
“Os estóicos”Os cínicos foram muito importantes para o desenvolvimento da “filosofia
estóica” que surgiu em Atenas cerca do ano 300 a.C.. O seu fundador, “Zenão”,
era oriundo de Chipre, mas juntou-se aos cínicos de Atenas após um naufrágio.
Reunia os seus ouvintes num pórtico. O nome estóico vem do termo grego que
designa “pórtico” (“stoa”). O estoicismo iria adquirir posteriormente uma grande
importância para a cultura romana.
Tal como Heráclito, os estóicos achavam que todos os homens
participavam da mesma razão universal — ou do mesmo “logos”. Para eles,
cada homem era um mundo em miniatura, um “microcosmos” que refletia o
“macrocosmos”.
Esta teoria levou à convicção de um direito universalmente válido, o direito
natural. O direito natural baseia-se na razão intemporal do homem e do universo,
por isso não se altera no tempo e no espaço. Neste aspecto, os estóicos tomavam
o partido de Sócrates contra os sofistas.
O direito natural é válido para todos os homens, inclusivamente para os
escravos.
As leis dos diversos Estados eram para os estóicos cópias imperfeitas de
um direito que se baseava na própria natureza.Assim como os estóicos aboliam a diferença entre o indivíduo e o universo,
também contestavam uma oposição entre “espírito” e “matéria”.
Segundo eles, há apenas uma natureza. Esta concepção é denominada
“monismo” (ao contrário, por exemplo, do claro dualismo de Platão, a
bipolarização da realidade).
Como verdadeiros filhos do seu tempo, os estóicos eram cosmopolitas.
Estavam, portanto, mais abertos à cultura contemporânea do que os “filósofos do
tonel” (os cínicos). Segundo eles, a comunidade dos homens devia interessar-se
por política, e muitos estóicos foram estadistas ativos, como, por exemplo, o
imperador romano “Marco Aurélio” (121180 d.C.). Contribuíram para que a
cultura e a filosofia gregas fossem difundidas em Roma principalmente graças
ao orador, filósofo e político “Cícero” (106-43 a.C.), que criou o conceito de
“humanismo”, ou seja, uma concepção do mundo que tem o indivíduo como
centro. O estóico “Sêneca” (4 a.C.-65 d.C.) disse alguns anos mais tarde que o
homem era sagrado para o homem, afirmação que se tornaria o mote de todo o
humanismo. Além disso, os estóicos sublinharam que todos os processos naturais
— por exemplo, a vida e a morte — seguiam as leis constantes da natureza. Por
isso, o homem tem de se reconciliar com o seu destino. Segundo eles, nada
acontece por acaso.
Tudo acontece por necessidade, e de pouco serve lamentarmo-nos quando
o destino nos bate à porta. Mesmo as situações felizes da vida devem ser aceites
com uma grande serenidade. Esta posição é semelhante à dos cínicos, para quem
todas as coisas exteriores do mundo eram indiferentes. Ainda hoje falamos de
uma “serenidade estóica”, quando alguém não se deixa arrebatar pelos seus
sentimentos.“Os epicuristas”
Como vimos, Sócrates queria descobrir como é que o homem pode viver
uma vida feliz. Cínicos e estóicos afirmavam que o homem se devia libertar do
luxo material. Mas Sócrates teve também um discípulo que se chamava
“Aristipo”. Para Aristipo, a finalidade da vida era obter o máximo prazer
sensível. O supremo bem era o prazer, e o grande mal era a dor. Por isso, queria
desenvolver uma arte de viver que evitasse todas as formas de dor. (O objetivo
que norteava os cínicos e os estóicos era suportar todas as formas de dor, algo
bem diferente de procurar evitá-la intencionalmente).
Cerca do ano 300 a.C., “Epicuro” (341-270 a. C.) fundou em Atenas uma
escola de filosofia. Desenvolveu a ética do prazer de Aristipo e combinou-a com
a teoria atomista de “Demócrito”.Segundo se diz, os epicuristas reuniam-se num jardim. Por isso, foram
também designados “filósofos do jardim”. Por cima do portão do jardim diz-se
que estaria escrito: “Estranho, aqui serás feliz. Aqui, o prazer é o bem supremo”.
Epicuro esclareceu que o resultado agradável de uma ação tem de ser
sempre confrontado com os seus eventuais efeitos secundários.
Se alguma vez comeste chocolate a mais, percebes o que eu quero dizer.
Caso o não tenhas feito, proponho-te o seguinte trabalho de casa: pega no teu
mealheiro e compra cem coroas de chocolate.
(Suponho que gostas de chocolate.) Nesta tarefa, o importante é comeres
todo o chocolate de uma vez. Cerca de meia hora depois de teres comido esse
excelente chocolate, compreenderás o que é que Epicuro queria dizer com
“efeitos secundários”.
Epicuro pretendia confrontar um resultado agradável, em curto prazo, com
um prazer maior, mais duradouro ou intenso em longo prazo. (Podemos, por
exemplo, imaginar que decides não comer chocolate durante um ano porque
preferes poupar todo o teu dinheiro para uma bicicleta nova ou para uma viagem
ao estrangeiro.) Ao contrário dos animais, o homem tem a possibilidade de
planear a sua vida, tem a capacidade de fazer um “cálculo dos prazeres”. O
chocolate é naturalmente um valor, mas a bicicleta e a viagem para Inglaterra
também o são.Mas Epicuro também sublinhava que “prazer” não era necessariamente o
mesmo que prazer físico — por exemplo, chocolate. Também a amizade e a
contemplação de uma obra de arte podem ser agradáveis.
Uma condição para a fruição da vida são também antigos ideais gregos
como o autodomínio, a temperança e a serenidade, porque a concupiscência tem
de ser refreada.
Deste modo, a serenidade também nos ajudará a suportar a dor.
Os freqüentadores do jardim de Epicuro eram principalmente homens
atormentados com angústias de natureza religiosa. Neste sentido, a teoria
atomista de Demócrito era um remédio útil contra a religião e a superstição.
Para termos uma vida feliz, é bastante importante superarmos o medo da
morte. Nesta questão, Epicuro recorre à teoria de Demócrito sobre os “átomos
da alma”. Talvez te lembres que Demócrito não acreditava na vida além da
morte porque os “átomos da alma” se dispersavam em todas as direções.
“Porque é que haveríamos de ter medo da morte?”, perguntava Epicuro.
Porque enquanto existimos, a morte não está aqui, e logo que ela vem, nós não
existimos.” (Com efeito, nunca um homem se afligiu por estar morto). O próprio
Epicuro resumia a sua filosofia libertadora através daquilo “a que chamou o
remédio quádruplo: Não precisamos temer os deuses. Não precisamos de nospreocupar com a morte. É fácil atingir o bem. O mal se suporta facilmente”.
Na Grécia, não era uma novidade comparar a tarefa do filósofo à do
médico. Segundo Epicuro, o homem deve munir-se de uma “farmácia portátil
filosófica” que, como dissemos, contém quatro medicamentos importantes.
Ao contrário dos estóicos, os epicuristas interessavam-se pouco por política
e pela sociedade. “Vive escondido!” era o conselho de Epicuro.
Podemos talvez comparar o seu jardim com o modo de viver de algumas
comunidades de hoje. Também no nosso tempo muitos procuram um lugar onde
se possam refugiar para fugir à sociedade.
Após a morte de Epicuro, muitos epicuristas orientaram-se apenas no
sentido de uma busca constante de prazeres. O seu mote passou a ser: “vive o
momento!”. O termo “epicurista” é hoje aplicado pejorativamente a uma pessoa
que vive apenas para o prazer.
“O neoplatonismo”Vimos que cínicos, estóicos e epicuristas se baseavam na doutrina de
Sócrates. Além disso, recorriam aos pré-socráticos Demócrito e Heráclito. Por
seu lado, a mais notável corrente filosófica da Antiguidade tardia inspirava-se
principalmente na teoria das idéias de Platão, sendo por isso, designada por
“neoplatonismo”.
O neoplatônico mais importante foi “Plotino” (por volta de 205-270 d.C.),
que estudou filosofia em Alexandria, e se transferiu posteriormente para Roma.
Devemos notar que ele vinha de Alexandria, cidade que era já há muitos séculos
o grande ponto de encontro da filosofia grega e da mística oriental. Plotino levou
consigo para Roma uma doutrina de salvação que se tornaria uma séria
concorrente do cristianismo que começava a afirmar-se. Mas o neoplatonismo
também haveria de exercer uma forte influência na teologia cristã.
Lembras-te da teoria das idéias de Platão, Sofia?
Sabes que ele distinguia o mundo inteligível do mundo sensível. Desse
modo, também distinguia claramente a alma do homem do seu corpo. Assim, o
homem tornou-se um ser duplo: segundo Platão o nosso corpo é constituído por
terra e pó, tal como todas as outras coisas que pertencem ao mundo sensível, mas
possuímos também uma alma imortal.Esta concepção já estava difundida na Grécia muito antes de Platão.
Plotino estava também familiarizado com concepções asiáticas semelhantes.
Plotino via o mundo separado em dois pólos. Num extremo está a luz divina, que
ele designava por “Uno”.
Por vezes, chamava-lhe também “Deus”. No outro extremo reina a
escuridão total que a luz do Uno não alcança. Mas para Plotino, essa escuridão
não existe de fato. É apenas uma ausência de luz — sim, não é. A única coisa que
existe é Deus ou o Uno, mas tal como uma fonte luminosa se perde
progressivamente na escuridão, também há um limite para o alcance dos raios
divinos.
Para Plotino, a luz do Uno ilumina a alma, ao passo que a matéria é a
escuridão que na realidade não existe.
Mas as formas da natureza também possuem um fraco reflexo do Uno.
Imagina uma enorme fogueira que arde de noite, Sofia. Do fogo jorram
centelhas em todas as direções. Em redor da fogueira a noite fica iluminada, e a
alguns quilômetros de distância ainda se pode ver um débil clarão. Se nos
afastarmos ainda mais, vemos um minúsculo ponto luminoso, como uma
lanterna à noite. E se nos afastarmos ainda mais da fogueira, deixamos de ver a
luz. Os raios luminosos perdem-se algures na noite, e quando está totalmente
escuro, não vemos nada. Nessa altura, não há sombras nem contornos.
Imagina agora a realidade como se fosse esse fogo. O que arde é Deus —
e a escuridão exterior é a matéria gelada de que homens e animais são feitos.
Junto de Deus estão as idéias eternas que são os arquétipos de todas as criaturas.
A alma humana é principalmente uma “centelha do fogo”. Mas em toda anatureza brilha um pouco dessa luz divina. Podemos vê-la em todos os seres
vivos, inclusivamente uma rosa ou um jacinto têm esse reflexo divino. A terra, a
água e as pedras são os seres mais afastados de Deus.
Em tudo o que vemos há algo do mistério divino. Vemos que ele cintila
num girassol ou numa papoula. Temos uma idéia mais clara desse mistério
impenetrável numa borboleta que levanta vôo de um ramo — ou num peixe
dourado que nada no seu aquário. Mas estamos mais próximos de Deus na nossa
própria alma.
Só aí podemos unir-nos ao grande mistério da vida. Em momentos raros
podemos sentir que nós mesmos somos esse mistério divino.
As imagens que Plotino usa fazem-nos recordar a parábola da caverna de
Platão. Quanto mais nos aproximamos da entrada da caverna mais nos
aproximamos da origem de tudo o que existe. Mas, ao contrário da clara
bipartição da realidade em Platão, o pensamento de Plotino denota uma
experiência do todo. Tudo é Uno — porque tudo é Deus. Mesmo as sombras na
caverna de Platão são um fraco reflexo do Uno.
Plotino experimentou algumas vezes no decurso da sua vida a fusão da sua
alma com Deus. Damos a isso o nome de “experiência mística”.
Plotino não era o único a ter essas experiências, que foram relatadas porhomens de todos os tempos e culturas.
Podem descrever a sua experiência de um modo completamente
diferente, mas as suas descrições apresentam muitas semelhanças importantes.
Vamos analisar algumas dessas semelhanças.
“Misticismo”
Uma experiência mística é uma experiência de unidade com Deus ou com
o “mundo espiritual”. Muitas religiões afirmam que entre Deus e a Criação há
um abismo; mas o místico sente que esse abismo não existe. Os místicos e as
místicas sentem uma “fusão com Deus”.
Sucede que aquilo a que geralmente chamamos “eu” não é o nosso
verdadeiro eu. Por breves momentos, podemos ter a experiência de uma
identificação com um eu maior. Alguns chamam-lhe Deus, outros “mundo
espiritual”, “natureza absoluta” ou “universo”. Na fusão, o místico sente que “se
perde a si mesmo”, desaparece ou perde-se em Deus, tal como uma gota de
água “se perde” quando se mistura no oceano. Um místico indiano disse outrora
o seguinte:“Quando eu existia, Deus não existia. Agora, Deus existe e eu já não
existo.”
O místico cristão “Angelus Silesius” (1624-1677) afirmou: “A gota tornase
oceano quando atinge o oceano, a alma torna-se Deus quando alcança Deus”.
Talvez estejas a pensar que não é muito agradável “a idéia de se perder a
si mesmo”. Compreendo o que pensas, Sofia, mas o importante é que aquilo que
tu perdes é inferior em relação ao que ganhas. Perdeste quanto à forma que
possuis de momento, mas ao mesmo tempo compreendes que na realidade és
algo infinitamente maior. És todo o universo. És a alma do mundo, Sofia. És
Deus. Se tens de renunciar a ti mesma como Sofia Amundsen, podes consolar-te
com a idéia de que um dia perderás o teu “eu quotidiano”. O teu verdadeiro eu
— que só podes descobrir quando consegues libertar-te a ti mesma — é, para os
místicos, um fogo maravilhoso que arde eternamente.
Mas uma experiência mística deste gênero nem sempre vem por si
mesma. Muitas vezes, o místico tem de percorrer uma via de purificação e de
iluminação para poder encontrar Deus. Essa via consiste numa vida simples e na
meditação. De repente, o místico atinge então a sua meta e pode exclamar: “eu
sou Deus” ou “Eu sou Tu!”.Encontramos em todas as grandes religiões correntes
místicas, e aquilo que os místicos escrevem sobre a sua experiência mística
revela notáveis semelhanças, apesar das diferenças culturais. Só quando o
místico tenta dar uma interpretação religiosa ou filosófica à sua experiência
mística é que o ambiente cultural se torna manifesto.Na “mística ocidental” — ou seja, no judaísmo, no cristianismo e no
islamismo — o místico afirma sentir o encontro com um Deus pessoal. Apesar
de Deus estar presente na natureza e na alma humana, está além deste mundo.
Na “mística oriental” — ou seja, no hinduísmo, no budismo e na religião chinesa
— o místico experimenta uma fusão total com Deus ou com a “alma do mundo”.
“Eu sou a alma do mundo”, poderá dizer o místico, ou “eu sou Deus”.
Porque Deus não só está presente no mundo, como não está em qualquer
outro lugar.
Antes de Platão, havia fortes correntes místicas, principalmente na Índia.
“Swami Vivekananda”, que contribuiu para a difusão do hinduísmo no Ocidente,
afirmou: “Tal como certas religiões do mundo afirmam que um homem que não
acredita num Deus pessoal transcendente é ateu, nós afirmamos que um homem
que não acredita em si mesmo é ateu. Não acreditar na grandeza da própria
alma é aquilo que chamamos ateísmo”.
Uma experiência mística também pode ser importante do ponto de vista da
ética.Um presidente da Índia, “Radhakrishnan”, afirmou um dia: “Deves amar o
teu próximo como a ti mesmo, porque tu és o teu próximo. Só uma ilusão te leva
a pensar que o teu próximo é um outro em relação a ti mesmo”.
Homens que não pertençam a nenhuma religião também podem relatar
experiências místicas. De repente, vivem algo a que chamam “consciência
cósmica” ou “sentimento oceânico”. Sentem-se arrancados ao tempo e vêem o
mundo “do ponto de vista da perspectiva da eternidade”.Sofia sentou-se na cama.
Tinha de verificar se ainda possuía corpo. Ao ler sobre Plotino e os
místicos, tivera a sensação de flutuar pelo quarto, sair pela janela e sobrevoar a
cidade. Vira todas as pessoas em baixo, na praça, voara mais alto sobre o mar do
Norte e a Europa até ao Sara e às extensas savanas de África.
Todo o globo terrestre se tornara um ser vivo e esse ser era Sofia. “Eu sou
o mundo”, pensava ela. Todo o universo, que tantas vezes lhe parecera
insondável e inquietante — era o seu próprio eu. O universo continuava a ser
grande e majestoso, mas, nesse momento, ela sentia-se tão grande como o
universo.
Essa sensação maravilhosa extinguiu-se rapidamente, mas Sofia tinha a
certeza de que nunca a esqueceria. Algo parecia ter saído de si e ter-se misturado
com tudo, tal como uma gota de corante pode tingir um copo de água.
Quando tudo passou, teve a sensação de que acordava com dores de
cabeça de um sonho espantoso. Sofia verificou com uma certa desilusão que
tinha um corpo que tentava levantar-se da cama. Tinha dores nas costas por ter
estado tanto tempo deitada de barriga para baixo enquanto lia a carta de Alberto
Knox. Mas sentira qualquer coisa de que nunca se esqueceria.Por fim, conseguiu pôr-se de pé. Furou as folhas e colocou-as junto às
outras lições no “dossiê”. Depois, saiu para o jardim.
Os pássaros chilreavam como se o mundo tivesse sido criado de novo.
Atrás das velhas coelheiras as bétulas eram de um verde-claro tão intenso que
parecia que o Criador ainda não terminara a diluição das cores.
Poderia de fato pensar que tudo era um Eu divino?
Poderia pensar que possuía uma alma que era uma “centelha do fogo”? Se
assim fosse, ela mesma era um ser divino.

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