CAPÍTULO XXV: KANT

...o céu estrelado acima de mim e a lei moral dentro de mim...

O major Albert Knag só telefonou para casa por volta da meia noite, para
dar os parabéns a Hilde.
A mãe de Hilde atendeu ao telefone.
— Para ti, Hilde.
— Está?— Aqui é o pai.
— Diz — Já é quase meia-noite!
— Eu só te queria dar os parabéns...
— Tens feito isso todo o dia. ... mas eu queria telefonar só quando o dia já
tivesse passado.
— Por que?
— Não recebeste o “presente”?
— Ah, isso! Sim, muito obrigada!— Não me aflijas. O que dizes?
— É fantástico. Não comi nada quase todo o dia.
— Tens de comer.
— Mas é tão excitante.
— Até onde já chegaste?
— Eles foram para dentro de casa porque tu brincavas com uma serpente
marinha...
— O Iluminismo.
— E Olympe de Gouges.— Então não me enganei.
— O que queres dizer com isso?
— Acho que só falta uma felicitação. Mas essa tem música, em
compensação.
— Eu vou continuar a ler até adormecer.
— Então estás a compreender?
— Hoje aprendi mais coisas do que... em toda a minha vida. É
inacreditável que não tenha passado um único dia desde que Sofia chegou a casa
e encontrou a primeira carta.
— É estranho o pouco tempo que é necessário...— Mas eu tenho alguma pena dela.
— De quem?
— Da Sofia, obviamente.
— Ah...
— Ela está completamente confusa, a pobrezinha.
— Mas ela é apenas... quero dizer...
— Queres dizer que foste tu que a criaste.— Sim, mais ou menos isso.
— Eu acho que a Sofia e o Alberto existem.
— Falaremos sobre isso quando eu voltar para casa.
— Sim.
— E desejo-te uma boa noite.
— O que disseste?
— Boa noite!
— Boa noite!Quando Hilde foi para a cama, meia hora mais tarde, lá fora havia ainda
tanta claridade que podia ver o jardim e a enseada. Nessa estação do ano, não
escurecia. Divertia-a a idéia do que seria viver num quadro pendurado na parede
de uma pequena cabana no bosque. Poderia sair da imagem e observar o que
havia cá fora? Antes de adormecer, leu mais algumas páginas do grande
“dossiê”.
Sofia voltou a pôr a carta do pai de Hilde no console da lareira.
— O que ele diz sobre a ONU pode ser importante — afirmou Alberto —
mas não gosto que ele interfira na minha exposição.
— Acho que não devias preocupar-te tanto com isso.
— A partir de agora, não vou dar atenção a qualquer fenômeno
extraordinário como serpentes marinhas e coisas semelhantes. Vamo-nos sentar
à janela, e eu falo-te sobre Kant. Sofia reparou num par de óculos que estava
numa pequena mesa entre duas poltronas. Também observou que as lentes eram
vermelhas. Seriam óculos de sol fortes?
— São quase duas — disse ela. — Tenho de estar em casa o mais tardar às
cinco. A minha mãe tem provavelmente planos para o meu dia de anos.— Então temos três horas.
— Começa.
— Immanuel Kant nasceu em 1724 em Königsberg, uma cidade da
Prússia Oriental, e era filho de um seleiro. Passou aí quase toda a sua vida até
morrer com a idade de oitenta anos. Vinha de uma família extremamente cristã.
A sua fé cristã foi uma base importante para a sua filosofia. Tal como
Berkeley, também ele queria salvar as bases da fé cristã.
— Eu sei o bastante sobre Berkeley, obrigada.
— Kant foi também o primeiro dos filósofos que tratamos que lecionava
filosofia numa universidade. Era professor de filosofia.
— Professor?— A palavra “filósofo” é usada hoje em dois sentidos diferentes. Por
filósofo, entendemos primeiro que tudo uma pessoa que procura encontrar as
suas próprias respostas para as questões filosóficas.
Mas um filósofo pode também ser um conhecedor da história da filosofia,
sem desenvolver necessariamente uma filosofia própria.
— E Kant era um conhecedor?
— Era ambas as coisas. Se ele tivesse sido apenas um professor brilhante
— ou seja, um conhecedor das idéias dos outros — nunca teria tido um lugar tão
importante na história da filosofia. Mas também é importante o fato de Kant ter
conhecido realmente a tradição filosófica como nenhum outro. Ele estava tão
familiarizado com racionalistas como Descartes e Espinosa como com
empiristas como Locke, Berkeley e Hume.
— Já te disse que parasses de falar de Berkeley .
— Sabemos que os racionalistas consideravam que o fundamento de todo o
conhecimento humano residia na razão. E sabemos ainda que os empiristasachavam que todo o conhecimento sobre o mundo provinha da experiência
sensível. Hume tinha apontado para o fato de existirem claros limites no que diz
respeito às conclusões a que podemos chegar com a ajuda das nossas impressões
sensíveis.
— E com quem é que Kant estava de acordo?
— Ele achava que todos tinham de certa forma razão, mas também que
todos estavam parcialmente errados. A questão que os preocupava era aquilo que
podemos saber sobre o mundo. Esse foi o projeto filosófico comum a todos os
filósofos depois de Descartes.
Estavam em debate duas possibilidades: o mundo é exatamente como o
percebemos — ou como a nossa razão o representa?
— E o que achava Kant?
— Kant achava que tanto as sensações como a razão tinham um papel
importante no nosso conhecimento do mundo. Ele defendia que os racionalistas
davam demasiada importância à razão e que os empiristas defendiam de forma
parcial a experiência sensível.— Se não me deres imediatamente um bom exemplo, fica tudo no ar.
— Kant está de acordo com Hume e com os empiristas ao defender que
devemos todos os nossos conhecimentos às sensações. Mas — e nisto concorda
com os racionalistas — na nossa razão também há condições importantes para o
modo como compreendemos o mundo à nossa volta. Por conseguinte, há certas
condições em nós mesmos que contribuem para a nossa concepção do mundo.
— E isso é que é um exemplo?
— Vamos antes fazer uma pequena experiência. Podes trazer os óculos
daquela mesa?
Isso. Agora, põe-os.
Sofia pôs os óculos. Tudo o que estava à sua volta se tornou vermelho. As
cores claras ficaram vermelho claro, as escuras vermelho escuro.
— O que é que vês?— Vejo exatamente o mesmo que antes, mas agora é tudo vermelho.
— Isso se deve ao fato de as lentes determinarem o modo como vês a
realidade. Tudo o que vês é uma parte de um mundo exterior a ti mesma; mas o
modo como a vês está relacionado com as lentes. Não podes dizer que o mundo é
vermelho, mesmo que te pareça vermelho.
— Não, claro que não...
— Se tu andasses agora pelo bosque — ou se estivesses em casa na Curva
do Capitão —, verias tudo aquilo que sempre viste. Mas tudo o que visses seria
vermelho. — Desde que eu não tirasse os óculos, sim.
— Os óculos são a condição do modo como vês o mundo. E do mesmo
modo, segundo Kant, também existem condições na nossa razão que influenciam
todas as nossas experiências.
— De que condições é que estamos a falar?— Tudo o que vemos, é visto primeiro como fenômeno no tempo e no
espaço. Segundo Kant, o tempo e o espaço eram as duas “formas da intuição” do
homem. E ele sublinha que estas duas formas na nossa consciência são anteriores
a qualquer experiência. Isso significa que podemos saber, antes de percebermos
alguma coisa, que a vamos ver como fenômeno no tempo e no espaço.
Não conseguimos, por assim dizer, tirar os óculos da razão.
— Então ele considerava que compreender as coisas no tempo e no espaço
era uma propriedade inata em nós.
— De certo modo, sim. O que vemos depende ainda de termos crescido na
Índia ou na Groelândia. Mas em toda a parte a nossa experiência do mundo é de
uma coisa no tempo e no espaço, e sabemo-lo antecipadamente.
— Mas o tempo e o espaço não existem fora de nós?
— Não. Kant explica que o tempo e o espaço pertencem à própria
condição humana. Tempo e espaço são principalmente propriedades da nossa
consciência e não propriedades do mundo.— Isso é um modo de ver completamente diferente.
— A consciência do homem não é, portanto, uma “cera” passiva que
apenas registra as sensações exteriores. É uma instância que se exerce
criativamente. A própria consciência contribui para determinar a nossa
concepção do mundo. Podes comparar com o que se passa quando deitas água
num jarro de vidro. A água toma a forma do jarro.
Do mesmo modo, as nossas sensações ajustam-se às nossas “formas da
intuição”.
— Acho que percebo o que queres dizer.
— Kant afirma que não é apenas a consciência que se adapta às coisas. As
coisas também se adaptam à consciência. O próprio Kant chamava a isto a
“revolução copernicana” na questão do conhecimento humano. Com isso, queria
dizer que esta idéia é tão nova e diferente em relação à tradição como a
afirmação de Copérnico de que a terra gira à volta do sol e não o inverso.
— Agora entendo o que ele queria dizer ao afirmar que tanto os
racionalistas como os empiristas tinham uma parte da razão. Os racionalistas
tinham esquecido a importância da experiência, e os empiristas não queriamadmitir que a nossa razão influencia a nossa concepção do mundo.
— Também a lei da causalidade — que, segundo Hume, os homens não
podiam perceber — é para Kant um elemento da razão humana.
— Explica-me isso!
— Ainda te lembras que Hume afirmou que apenas vemos um nexo
causal necessário por detrás de todos os fenômenos da natureza devido ao hábito.
Hume achava que não podemos ver que a bola de bilhar preta é causa do
movimento da bola branca. Por isso, também não podemos provar que a bola
preta provoque sempre o movimento da bola branca.
— Ainda me lembro disso.
— Mas justamente aquilo que segundo Hume não podemos provar é visto
por Kant como uma propriedade da razão humana. A lei da causalidade é
sempre e absolutamente válida pelo fato de a razão humana ver tudo o que
acontece como relação entre causa e efeito.— De novo, eu diria que a lei da causalidade está na natureza e não no
homem.
— Kant diz que está em nós. Ele está de acordo com Hume em não
podermos saber com segurança o que o mundo é “em si”. Apenas podemos
saber como o mundo é “para mim” — logo, para todos os homens. A distinção
que Kant faz entre as “coisas em si” e as “coisas para nós” é a sua contribuição
mais importante para a filosofia. Nunca podemos saber com segurança como as
coisas são “em si”. Em compensação, podemos, sem qualquer experiência, dizer
como as coisas são compreendidas pela razão humana.
— E é mesmo assim?
— Antes de saíres de casa de manhã, não podes saber o que vais ver nesse
dia. Mas podes saber que apreenderás como fenômenos no tempo e no espaço
tudo aquilo que vires.
Além disso, podes ter a certeza de que a lei da causalidade é válida porque
faz parte da tua consciência.— Mas também podíamos ter outra estrutura?
— Sim, podíamos ter uma outra estrutura sensível. E, nesse caso, podíamos
ter também uma outra percepção do tempo e do espaço, ou ser constituídos de tal
modo que não procurássemos as causas dos fenômenos.
— Podes dar um exemplo?
— Imagina um gato que está deitado no chão da sala. Imagina que uma
bola rola para dentro do quarto. O que faz o gato nessa altura?
— Eu já experimentei isso várias vezes. O gato vai a correr atrás da bola.
— Sim. E agora imagina que tu estás na sala em vez do gato. Se vês de
repente uma bola que vem a rolar, também corres imediatamente atrás dela?
— Em primeiro lugar, volto-me para ver de onde vem a bola.— Sim, por seres um ser humano, procurarás forçosamente a causa de
cada acontecimento. A lei da causalidade faz parte do que te constitui.
— E é de fato assim?
— Hume diria que não podemos sentir nem provar as leis da natureza, mas
Kant não se conformava com isso. Acreditava poder provar a validade absoluta
das leis da natureza ao mostrar que na realidade estamos a falar de leis do
conhecimento humano.
— Uma criança pequena também voltaria a cabeça para saber quem tinha
tocado na bola?
— Talvez não. Mas Kant afirma que a razão não está completamente
desenvolvida numa criança porque ainda não pôde trabalhar com material
sensível. Por um lado, temos as condições exteriores, das quais nada podemos
saber antes de as termos percebido.
Podemos dizer que são a matéria do conhecimento. Por outro lado, temos
as condições interiores no próprio homem — por exemplo, vermos tudo como
fenômenos no tempo e no espaço e também como processos que seguem uma
lei causal imutável. Podemos dizer que isso é a forma do conhecimento.Alberto e Sofia ficaram um tempo parados olhando pela janela. De
repente, Sofia viu surgir uma moça por entre as árvores, na outra margem do
lago.
— Olha! — disse Sofia.
— Quem é? — Não faço idéia. Viram a moça durante mais alguns
segundos, mas depois desapareceu. Sofia reparara que ela trazia um chapéu
vermelho.
— De qualquer modo, não nos podemos distrair.
— Continua.
— Kant também apontou para o fato de existirem claros limites para o que
os homens podem conhecer. Podes dizer que os óculos da razão nos impõem
limites.— Como assim?
— Talvez ainda recordes quais foram as verdadeiras “grandes” questões
filosóficas dos filósofos anteriores a Kant: se o homem possui uma alma imortal;
se Deus existe; se a natureza é constituída por partes indivisíveis; e se o universo é
finito ou infinito.
— Sim.
— Kant achava que o homem nunca poderia atingir um conhecimento
seguro destas questões. Isso não quer dizer que não se preocupasse com estes
problemas. Muito pelo contrário. Se ele tivesse simples-mente rejeitado estas
perguntas, dificilmente lhe poderíamos chamar filósofo.
— E então o que é que ele fez?
— Tens de ter um pouco de paciência. Kant achava que nestas grandes
questões filosóficas, a razão operava fora dos limites daquilo que o homem pode
conhecer. Por outro lado, era inerente à natureza humana, ou à razão humana, a
necessidade de colocar essas questões. Quando, por exemplo, perguntamos se o
universo é finito ou infinito, perguntamos sobre um todo do qual nós mesmos
somos uma parte extremamente pequena.E nunca podemos conhecer este todo completamente.
— Porque não?
— Quando puseste os óculos vermelhos, nós sabíamos que, segundo Kant,
há dois elementos que contribuem para o nosso conhecimento. — Experiência
sensível e razão.
— Sim, recolhemos a matéria para o nosso conhecimento através dos
sentidos, mas esta matéria também se ajusta às características da nossa razão.
Por exemplo, é inerente à nossa razão perguntarmos quais as causas de um
fenômeno.
— Por exemplo, porque é que uma bola rola pelo chão.
— Sim. Mas quando nos questionamos sobre de onde vem o mundo — e
discutimos respostas possíveis —, a razão move-se de certo modo no vazio. Nessa
altura, não pode “trabalhar” nenhuma matéria dos sentidos; não tem experiências
às quais se possa agarrar, porque nunca tivemos experiência da realidade total da
qual somos uma pequena parte.— É como se fôssemos uma ínfima parte da bola que rola pelo chão. E por
isso não podemos saber de onde vem.
— Mas reside na razão humana a necessidade de perguntar de onde vem
esta bola.
Por isso, perguntamos constantemente e esforçamo-nos para encontrar
respostas às grandes questões. Mas como não temos matéria concreta com que
possamos trabalhar, nunca obtemos respostas seguras porque a razão discorre no
vazio.
— Obrigada, conheço bem essa sensação.
— Nas grandes questões, que dizem respeito à realidade no todo, haverá
sempre dois pontos de vista exatamente opostos, igualmente prováveis e
improváveis.
— Dá-me exemplos, por favor.— Faz tanto sentido dizer que o mundo tem um começo no tempo como
dizer que não tem começo. A razão não pode decidir entre as duas possibilidades;
por isso não pode afirmá-las. Podemos naturalmente afirmar que o mundo
existiu sempre — mas pode alguma coisa ter existido sempre sem ter tido
começo algum? E consideremos o ponto de vista oposto, dizendo que o mundo
tem de ter um início — nesse caso, o mundo tem de ter surgido do nada, porque
de outro modo apenas poderíamos falar de uma passagem de um estado para
outro. Pode alguma coisa vir do nada, Sofia?
— Não, ambas as possibilidades são problemáticas. Mas uma tem de ser
verdadeira e a outra falsa.
— E sabes que Demócrito e os materialistas tinham explicado que a
natureza era constituída por partículas minúsculas, de que tudo é composto.
Outros — por exemplo, Descartes — defendiam que a realidade extensa era
divisível em partes cada vez menores. Qual deles tinha razão?
— Ambos... nenhum.
— Muitos filósofos tinham também afirmado que a liberdade do homem
era um dos seus mais importantes atributos.
Ao mesmo tempo, deparamos com filósofos — por exemplo, os estóicos e
Espinosa —, que explicavam que tudo no mundo acontecia apenas segundo asleis necessárias da natureza. Também neste ponto, Kant achava que a razão não
podia pronunciar um juízo seguro.
— Ambos os pontos de vista são plausíveis.
— E, por fim, também não podemos provar com a nossa razão a
existência de Deus. Nesta questão, os racionalistas — por exemplo, Descartes —
tinham tentado provar que Deus existe porque temos a idéia de um ser perfeito.
Outros — por exemplo, Aristóteles e S. Tomás de Aquino — eram da
opinião que Deus tinha de existir porque tudo tem de ter uma primeira causa.
— E o que é que Kant pensava?
— Ele rejeitou ambas as provas da existência de Deus. Nem a razão nem
a experiência têm um fundamento seguro para afirmarem que Deus existe. Para
a razão é tão provável como improvável que Deus exista.
— Mas tu disseste primeiro que Kant queria defender as bases da fé cristã.— Sim, e ele deixa de fato espaço para a religião, a saber, onde a nossa
experiência e a nossa razão não alcançam, a religião pode preencher este
espaço.
— E foi assim que ele salvou o Cristianismo?
— Podes dizer isso. Mas temos de ter em conta que Kant era protestante.
Desde a Reforma, o ênfase na fé foi uma das características do Cristianismo
protestante. A Igreja Católica, pelo contrário, confiara mais na razão como um
pilar da fé, desde o início da Idade Média.
— Estou vendo. — Mas Kant fez mais do que verificar que estas questões
importantes tinham de ser deixadas no domínio da fé. Para ele, a suposição de
que o homem tem uma “alma imortal”, que Deus existe e que o homem tem
“livre arbítrio” era uma condição imprescindível para a moral.
— É quase como em Descartes. Primeiro, é muito crítico em relação
àquilo que podemos compreender. E depois faz entrar novamente Deus e o resto
pela porta traseira.
— Mas, ao contrário de Descartes, Kant sublinha expressamente que nãofoi a razão que o levou até aí, mas a fé. Ele mesmo afirmava que a crença numa
alma imortal e inclusivamente a crença na existência de Deus e no livre arbítrio
do homem eram “postulados práticos”.
— O que significa isso?
— Postular significa afirmar uma coisa que não pode ser provada. Por
postulado prático, Kant entende algo que tem de ser afirmado para a “praxis” do
homem, ou seja, para a sua ação e por conseguinte para a sua moral. “É
moralmente necessário pressupor a existência de Deus” afirmou.
Subitamente, alguém bateu à porta. Sofia levantou-se imediatamente, e
como Alberto ficasse sentado impassível, disse:
— Não devíamos abrir a porta?
Alberto encolheu os ombros, mas acabou por se levantar também. Sofia
abriu a porta, e lá fora estava uma moça novinha com um vestido branco de
Verão e um pequeno capuz vermelho. Era a mesma que Sofia vira na outra
margem do lago. Observou que trazia um cesto com comida.— Olá — disse Sofia. — Quem és tu?
— A Chapeuzinho Vermelho, não vês?
Sofia olhou para Alberto e este acenou afirmativamente.
— Estou à procura da casa da minha avó — explicou a pequena. Ela está
velha e doente, mas eu levo-lhe comida e vinho.
— Não é aqui — disse Alberto. — Portanto, segue o teu caminho.
Ao dizer isto, fez um gesto com a mão como se estivesse a enxotar uma
mosca.
— Mas eu também tenho de entregar uma carta — explicou a moça do
capuz vermelho. Tirou um pequeno envelope da algibeira e entregou-o a Sofia.
Feito isto, retomou o seu caminho.— Tem cuidado com o lobo! — exclamou Sofia.
Alberto já ia novamente a caminho da sua poltrona. Sofia seguiu-o e
sentou-se à sua frente como anteriormente.
— A Chapeuzinho Vermelho, imagina — disse Sofia abanando a cabeça.
— E não faz sentido avisá-la. Ela vai para casa da avó e lá será comida
pelo lobo. Não aprende nada; tudo se repete para toda a eternidade.
— Mas eu nunca ouvi dizer que ela tivesse batido à porta de outra cabana
quando ia ter com a avó.
— Isso é uma ninharia, Sofia.
Só então olhou Sofia para o envelope. Nele estava escrito: “Para Hilde”.
Abriu o envelope e leu alto:“Querida Hilde! Mesmo que o cérebro humano fosse tão simples que nós o
pudéssemos compreender, seríamos mesmo assim tão estúpidos que não o
compreenderíamos.
Um beijo do pai”
Alberto acenou afirmativamente.
— Tem toda a razão. E eu acho que Kant poderia ter dito uma coisa
semelhante.
Não podemos esperar compreender o que somos. Talvez possamos
compreender realmente uma flor ou um inseto, mas nunca nós mesmos. E muito
menos podemos esperar compreender todo o universo.
Sofia teve de ler a estranha frase várias vezes antes de Alberto prosseguir:
— Não nos podemos deixar distrair por serpentes marinhas e artifícios
semelhantes. Antes de terminarmos por hoje, ainda te vou falar da ética de Kant.— Então despacha-te, tenho de ir para casa.
— O ceticismo de Hume em relação ao que a razão e os sentidos nos
podem transmitir realmente obrigou Kant a refletir mais uma vez sobre muitas
das mais importantes questões da vida. Isso também era válido para o campo da
moral.
— Hume não disse que não podemos provar o que é justo e o que é injusto,
porque não podemos concluir frases normativas de frases descritivas?
— Hume considerava que nem a nossa razão nem as nossas experiências
estabelecem a diferença entre o justo e o injusto, só os nossos sentimentos. Este
fundamento parece a Kant demasiado fraco.
— Sim, eu compreendo bem isso.
— Kant tinha desde o princípio a forte impressão de que a diferença entre
o justo e o injusto tinha de ser mais do que uma questão de sentimentos. Nesse
aspecto ele estava de acordo com os racionalistas, que tinham explicado que era
inerente à razão humana distinguir o justo do injusto.Todos os homens sabem o que é justo e o que não é, e nós sabemo-lo não
apenas porque o aprendemos, mas também porque é inerente à nossa razão.
Kant achava que todos os homens tinham uma “razão prática” que nos diz
sempre o que é justo e o que é injusto no domínio da moral.
— Então é inata?
— A capacidade de distinguir o justo do injusto é tão inata como todos os
outros atributos da razão. Todos os homens vêem os fenômenos como
determinados causalmente — e também têm acesso à mesma lei moral
universal. Esta lei moral tem a mesma validade absoluta que as leis físicas da
natureza. Isso é tão fundamental para a nossa vida moral como é fundamental
para a nossa vida racional que tudo tenha uma causa, ou que sete mais cinco
sejam doze.
— E o que é que diz essa lei moral?
— Uma vez que precede qualquer experiência, é “formal”. Significa que
não está relacionada com possibilidades morais de escolha determinadas. É
válida para todos os homens em todas as sociedades e em todos os tempos. Logo,
não diz que tens de fazer isto ou aquilo nesta ou naquela situação. Diz como te
deves comportar em todas as situações.— Mas que sentido tem uma lei moral, se não nos diz como nos devemos
comportar numa situação determinada?
— Kant formula a lei moral como imperativo categórico.
Por isto, ele entende que a lei moral é “categórica”, quer dizer, é válida
em todas as situações. Além disso, é um “imperativo” e conseqüentemente uma
“ordem” e absolutamente inevitável.
— Hm...
— Aliás, Kant formula o seu imperativo categórico de diversas formas.
Primeiro, diz: “devíamos agir sempre de tal forma que pudéssemos desejar
simultaneamente que a regra segundo a qual agimos fosse uma lei universal”.
— Quando faço alguma coisa, tenho de ter a certeza de que desejo que
todos façam o mesmo na mesma situação.
— Exato. Só nessa altura ages de acordo com a tua lei moral interior. Kanttambém formulou o imperativo categórico da seguinte forma: devemos tratar os
outros homens sempre como um fim em si e não como um meio para alguma
outra coisa.
— Não podemos, portanto, “explorar” os outros para obtermos benefícios.
— Não, porque todos os homens são um fim em si. Mas isso não é válido
apenas para os outros, mas também para nós mesmos. Também não nos
devemos explorar como meio para alcançar algo.
— Isso me faz lembrar a “regra dourada”: não faças aos outros o que não
queres que te façam a ti.
— Sim, e isso é uma norma formal que abrange basicamente todas as
possibilidades éticas de escolha. Podes afirmar que essa regra dourada exprime
aproximadamente aquilo a que Kant chamou lei moral.
— Mas isso é apenas conversa. Hume tinha razão ao dizer que não
podemos provar com a razão o que é justo e o que é injusto.
— Para Kant, a lei moral era tão absoluta e universalmente válida como,por exemplo, a lei da causalidade.
Também não pode ser provada pela razão, mas é incontornável. Nenhum
homem a contestaria.
— Começo a ter a sensação de que estamos realmente a falar da
consciência, porque todos os homens têm uma consciência.
— Sim, quando Kant descreve a lei moral, descreve a consciência
humana. Não podemos provar o que a consciência diz, mas sabemo-lo.
— Por vezes, sou muito simpático para com os outros simplesmente
porque é vantajoso para mim. Desse modo, posso ser popular.
— Mas quando és simpática para com os outros apenas para seres popular,
não estás a agir de acordo com a lei moral. Talvez não estejas a observar a lei
moral. Talvez estejas a agir numa espécie de acordo superficial com a lei moral
— e isso já é alguma coisa —, mas uma ação moral tem de ser o resultado de
uma superação de ti mesma. Só quando fazes algo porque achas ser teu “dever”
seguir a lei moral é que podes falar de uma ação moral. Por isso, a ética de Kant
é freqüentemente chamada “ética do dever”.— Eu posso achar ser meu dever juntar dinheiro para a Cruz Vermelha ou
a Caritas.
— Sim, e o importante é tu fazeres uma coisa porque a achas correta.
Mesmo quando o dinheiro que tu juntaste se extravia ou nunca alimente as
pessoas que devia alimentar, tu cumpriste a lei moral.
Agiste com a atitude correta e, segundo Kant, a atitude é decisiva para
podermos dizer que uma coisa é moralmente correta. Não são as conseqüências
de uma ação que são decisivas. Por isso, também dizemos que a “ética de Kant é
uma ética da boa vontade”.
— Porque é que era tão importante para ele saber quando é que agimos
por respeito à lei moral? Não é mais importante que aquilo que fazemos ajude os
outros?
— Sim, Kant concordaria, mas só quando sabemos que agimos por
respeito à lei moral é que agimos em “liberdade”.
— Só obedecendo a uma lei é que agimos em liberdade? Isso não é
estranho?— Segundo Kant, não. Talvez ainda te lembres que ele “postulou” o livre
arbítrio do homem. Esse é um ponto importante, porque Kant achava que todas
as coisas seguem a lei da causalidade. Como é que podemos ter livre arbítrio
assim?
— Não me perguntes.
— Aqui, Kant divide o homem em duas partes, e nisso faz lembrar
Descartes, que afirmava que o homem era um ser duplo visto que tem corpo e
razão. Enquanto seres sensíveis, estamos completamente sujeitos às leis
imutáveis da causalidade, segundo Kant.
Não decidimos o que sentimos; as sensações surgem necessariamente e
influenciam-nos, quer queiramos quer não. Mas o homem não é apenas um ser
sensível. Somos também seres racionais.
— Explica-me isso!
— Enquanto seres sensíveis, pertencemos à ordem da natureza. Por isso
estamos sujeitos à lei da causalidade.Deste ponto de vista, não temos livre arbítrio. Mas enquanto seres
racionais, participamos no mundo “em si” — ou seja, no mundo independente
das nossas sensações. Só quando seguimos a nossa “razão prática” — que nos
possibilita fazer uma escolha moral —, temos livre arbítrio. Se obedecermos à lei
moral, somos nós que fazemos a lei pela qual nos orientamos.
— Sim, isso está certo. Eu digo — ou alguma coisa em mim diz — que eu
não devo ser má para os outros.
— Se decides não ser má — mesmo quando ages contra o teu próprio
interesse — então estás a agir livremente.
— Pelo menos, não somos livres e autônomos quando seguimos apenas os
nossos instintos.
— Podemos fazer-nos escravos de tudo. Sim, podemos inclusivamente ser
escravos do nosso próprio egoísmo. Para nos elevarmos acima dos nossos
instintos e vícios é necessário autonomia — e liberdade.
— E quanto aos animais?Eles seguem só os seus instintos e necessidades. Não têm essa liberdade de
seguir uma lei moral?
— Não, é justamente esta liberdade que nos torna seres humanos.
— Estou a ver.
— Para concluir, podemos dizer que Kant conseguiu mostrar a saída para
o impasse no qual a filosofia caíra com a disputa entre racionalistas e empiristas.
Com Kant, termina também uma época na história da filosofia. Ele morreu em
1804 — no começo da época a que chamamos Romantismo.
No seu túmulo, em Kõnigsberg, está uma das suas frases mais citadas:
“duas coisas preenchem o meu espírito com uma admiração e respeito sempre
novos e crescentes, quanto mais o pensamento se ocupa delas: o céu estrelado
acima de mim e a lei moral dentro de mim”.
Alberto recostou-se na sua poltrona.— E isto — afirmou. — Acho que era o mais importante sobre Kant.-E já
quatro e um quarto.
— Mas há mais. Por favor, espera um momento!
— Eu nunca me vou embora antes de o professor dar a aula por
terminada.
— Eu também disse que, segundo Kant, não temos liberdade se vivermos
apenas como seres sensíveis. — Sim, mais ou menos isso.
— Mas quando seguimos a razão universal, somos livres e autônomos. Eu
também disse isso? — Sim, porque é que estás a repetir? Alberto inclinou-se para
Sofia e olhou-a profundamente nos olhos e sussurrou:
— Não te deixes enganar por tudo o que vês, Sofia.
— O que é que queres dizer?— Olha para o outro lado.
— Não estou a perceber nada.
— Dizemos freqüentemente: “só acredito quando vir”. Mas também não
podes acreditar no que vês.
— Já disseste uma vez uma coisa semelhante.
— Sobre Parmênides, sim.
— Mas ainda não compreendo o que queres dizer.
— Bom, nós sentamo-nos na soleira da porta e conversamos. E, de
repente, uma serpente marinha começou a andar às voltas na água.— Não foi estranho?
— De modo algum. E depois, a Chapeuzinho Vermelho bate à nossa porta.
“Estou à procura da casa da minha avó”. Isto é embaraçoso, Sofia. Mas todas
estas coisas são apenas os truques do major. Tal como a carta na banana e a
trovoada absurda.
— Achas que...
— Estou a dizer que tenho um plano. Desde que sigamos a razão, ele não
nos pode pregar partidas. Nisso, somos de certo modo livres. Ele pode fazer-nos
“experienciar” todas as coisas e nada disso me surpreenderia. Se ele em seguida
obscurecer o céu com elefantes que voam, no máximo sorrio.
Mas sete mais cinco são doze. Isso é um fato que sobrevive a todos estes
efeitos de banda desenhada. A filosofia é o contrário da fábula. Sofia olhou para
ele admirada.
— Agora podes ir-te embora — disse por fim. — Volto a telefonar-te para
um encontro sobre o Romantismo. Ficas a saber alguma coisa sobre Hegel e
Kierkegaard. Mas já só falta uma semana para o major regressar à Noruega.
Até lá, temos de nos libertar das suas fantasias de mau gosto. É tudo por hoje,
Sofia. Mas quero que saibas que estou a trabalhar num plano fantástico para nós.— Então vou-me embora.
— Espera — se calhar, esquecemo-nos do mais importante.
— O quê?
— A canção dos parabéns, Sofia. Hilde faz hoje quinze anos.
— Eu também.
— Tu também, sim. Cantemos.Ambos se levantaram e cantaram:
— Parabéns a você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de
vida. Hoje é dia de festa, cantam as nossas almas, para a menina Hilde, uma
salva de palmas.Eram quatro e meia. Sofia desceu em direção ao lago e remou para a
outra margem. Empurrou o barco para o canavial e correu pelo bosque. Quando
chegou ao carreiro, viu subitamente uma coisa que se movia entre os troncos.
Sofia pensou na Chapeuzinho Vermelho, que tinha ido sozinho pelo bosque para a
casa da avó, mas este vulto entre as árvores era muito menor.
Aproximou-se. O vulto não era maior do que uma boneca; era castanho,
mas trazia uma camisola vermelha.
Sofia ficou petrificada quando se apercebeu que era um urso de pelúcia.
Que alguém tivesse esquecido um urso de pelúcia no bosque não era estranho,
mas este urso de pelúcia estava vivo e parecia muito preocupado com alguma
coisa.
— Olá — disse Sofia. A pequena figura voltou-se.
— Eu sou Winnie the Pooh — disse — e infelizmente perdi-me no bosque,
senão seria um bom dia. Mas nunca te vi.
— Talvez eu nunca tenha estado aqui — disse Sofia.— Estamos perto de tua casa, no Bosque de Cem Acres?
— Essa pergunta é demasiado difícil. Não te esqueças que eu sou um urso
pouco inteligente.
— Já ouvi falar de ti.
— Então chamas-te Alice.
Christopher Robin falou uma vez sobre ti, deve ter sido assim que nos
conhecemos. Bebeste tanto de uma garrafa que ficaste cada vez menor. Mas
depois bebeste uma outra garrafa e voltaste a crescer. Temos de ter muito
cuidado com aquilo que levamos à boca. Eu próprio comi tanto uma vez que
fiquei preso na toca de um coelho.
— Eu não sou Alice.
— Não é importante quem nós somos. O mais importante é o que nóssomos. E o que diz a coruja e ela é muito inteligente. “Sete mais quatro são
doze”, disse num dia de sol. O burro e eu estávamos muito embaraçados; é tão
difícil calcular os números. Calcular o tempo é muito mais fácil.
— Eu chamo-me Sofia.
— É um prazer conhecer-te, Sofia. Acho, como disse, que és nova por
aqui. Mas agora o pequeno urso tem de se ir embora. Tenho de tentar encontrar o
leitão. Fomos convidados para uma grande festa ao ar livre com Bugs Bunny e os
seus amigos.
Acenou com uma pata. Só então Sofia descobriu que ele segurava uma
folha na outra pata.
— O que tens aí? — perguntou.
Winnie the Pooh levantou a folha e disse:
— Foi por causa disto que me enganei no caminho.— Mas é apenas uma folha.
— Não, isto não é “apenas uma folha”. É uma carta para Hilde — portrás-do-espelho.
— Oh, então eu posso levá-la.
— Mas tu não és a moça do espelho, pois não?
— Não, mas...
— Uma carta deve sempre ser entregue pessoalmente. Foi Christopher
Robin que me explicou isso ontem.
— Mas eu conheço Hilde.— Isso não tem importância. Mesmo quando conhecemos alguém muito
bem, nunca devemos ler as suas cartas.
— Eu estou apenas a dizer que lha posso entregar. — Isso é
completamente diferente. Faz o favor, Sofia. Só quando me livrar desta carta
encontrarei o caminho para ir ter com o leitão. Para encontrar Hilde do espelho,
precisas primeiro de ter um grande espelho, mas isso não é fácil aqui. O pequeno
urso deu a Sofia a folha que segurara na pata e deitou a correr com os seus
pequenos pés. Quando ele desapareceu, Sofia desdobrou a folha e leu:
“Querida Hilde! É uma vergonha que Alberto não tenha falado a Sofia
sobre o fato de Kant se ter pronunciado a favor da fundação de uma sociedade
das nações”. Na obra “A paz perpétua”, de 1795, ele escreveu que todos os
países deviam unir-se numa sociedade das nações, que asseguraria a
coexistência pacífica das diversas nações.
Aproximadamente cento e vinte e cinco anos após a publicação desta obra
— imediatamente a seguir à Primeira Guerra Mundial — esta Sociedade das
Nações foi realmente fundada. Após a Segunda Guerra Mundial, foi substituída
pela ONU. Podes dizer que Kant foi uma espécie de padrinho da idéia da ONU.
A idéia de Kant era que a “razão prática” dos homens obrigasse os Estados a
abandonar um estado de natureza” que causa sempre novas guerras, e criasse
um sistema jurídico internacional que evitasse as guerras. Apesar de ser longo o
percurso até à fundação de uma sociedade das nações que funcione
verdadeiramente, é nosso dever tratar de assegurar a paz universal. Para Kant, o
estabelecimento de uma sociedade como esta era um objetivo distante, quase o
objetivo último da filosofia.Eu mesmo me encontro de momento no Líbano.
Beijos do pai”
Sofia pôs a carta no bolso e prosseguiu o seu caminho para casa. Alberto
prevenira-a de encontros no bosque. Mas ela não podia deixar o pequeno urso às
voltas numa busca interminável de Hilde do espelho.

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