O pum

Filhos são uma caixinha de surpresas. Quando Mário Márcio tinha dois aninhos, descobri num elevador, que seu pum não era um pum que as pessoas esperam de um bebê. Pum de criança pode ser barulhento como motor de carro de Fórmula 1 e muito, muito fedorento mesmo.

Estava no elevador do prédio do médico, com ele e Maria de Lourdes a tiracolo e minha barriga de sete meses de gravidez pesada como um urso. (Sim, engravidei de novo, e esta é a última vez.) Como frequentava o consultório do doutor Murilo havia um bom tempo, desde o nascimento de Maria de Lourdes, eu conhecia o ascensorista, o porteiro do prédio, o moço da manutenção... todos sempre me deram bom dia e boa tarde. A partir desse dia que narrarei a seguir, eles continuaram um poço de educação, mas nunca deixei de ouvir os risinhos que davam pelas minhas costas.
 Eram quatro da tarde, eu estava atrasada, Maria de Lourdes chorando porque queria um brinquedo, Mário Márcio chorando por chorar e eu chorando com carrinho, bebê de colo, minha bolsa e bolsa do neném, tudo me atazanando ao mesmo tempo. Pois bem, eis que perto do sexto andar (o do médico era o décimo segundo), o moleque resolveu soltar um pum. Não um, com o perdão da chula e imperdoável (porém insubstituível) palavra, peidinho proporcional ao seu tamanho, mas um daqueles enormes, barulhentos, com cheiro de enxofre. Na mesma hora eu reagi: "Meu filho, que falta de educação!"
  Com os olhares cada vez mais voltados para mim, fiquei acuada e ruborizei ao perceber que ninguém ali acreditara que o pum não era meu. Para completar, Maria de Lourdes perguntou, com aquela irritante sinceridade infantil:
 - Você soltou um pum, mãe? Foi você? Rá rá, mamãe soltou um pum enorme! E tá dizendo que foi o Mário márcio! 
- Qe soltei pum, o quê? Pára com isso, olha o respeito!
- Mamãesoltoupum, mamãesoltoupum, mamãesoltoupum, larará, mamãesoltoupum, larará!
- Que "larará", Maria de Lourdes? Que musiquinha esdrúxula é essa? Cala essa boca! - disse, entre os dentes, morta de vergonha.
 Cínica, ela ignorou minha bronca e repetiu a tal musiquinha cada vez mais alto, cada vez mais rápido, só para me irritar. Eu rezando para chegar o décimo segundo e o elevador devagar como nunca.
 O pior constrangimento foi ver todo mundo que saía me lançar aquela olhadinha sem-vergonha, do tipo "ô, madame, não podia segurar esse? Só mais seis andares? Tsc, tsc, tsc, que vexame, ainda bota a culpa no neném".
Filhos... como são adoráveis!


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