alguma batida.
Ouvi apenas: “Levanta! Sabe que horas são?”
Olhei para o relógio e resmunguei, um pouco sonolento: “Sete e trinta e
seis.”
“Não, Gordo. É hora de farrear! Temos apenas sete dias antes de todo
mundo voltar. Meu Deus, não sabe como é bom ter você aqui. Passei o último
feriado fazendo uma vela gigante com a cera das outras velas. Foi muito chato.
Contei os quadrados do teto. Oitenta e quatro de pé e sessenta e sete deitados. Isso
é que é sofrimento! Foi uma verdadeira tortura.”
“Estou cansado. Eu...” eu disse, então ela me interrompeu.
“Pobrezinho do Gordo. Pobrezinho. Quer que eu me deite na cama para
dormir abraçadinha com você?”
“Não é má ideia...”
“NÃO! LEVANTA! AGORA!”
Ela me levou para os fundos de uma ala de quarto dos Guerreiros de Dia
de Semana – do 50 ao 59 – e parou em frente a uma das janelas, colocou as
mãos espalmadas contra o vidro e o empurrou para cima até a janela se abrir
pela metade, depois entrou. Eu fui atrás.
“O que você está vendo, Gordo?”
Eu estava vendo um quarto – as mesmas paredes de bloco de concreto,
as mesmas dimensões e até o mesmo layout do meu. O sofá deles era melhor, e
eles tinham uma mesa de centro de verdade em vez de uma MESA DE
CENTRO. Havia dois pôsteres na parede. Um deles continha um monte de notas
de cem dólares com a legenda O PRIMEIRO MILHÃO É O MAIS DIFÍCIL. Na
parede oposta, um pôster de uma Ferrari vermelha. “Bom..., estou vendo um
quarto.”
“Você não está prestando atenção, Gordo. Quando entro no seu quarto,
vejo dois garotos que adoram videogame. Quando entro no meu quarto, vejo
uma garota que gosta de ler.” Ela caminhou até o sofá e pegou uma garrafa
plástica de refrigerante. “Olha só”, ela disse, e eu vi que a garrafa estava cheia
pela metade de um líquido nojento. Fumo. “Eles mascam fumo. E obviamente
não são muito higiênicos. Então será que vão se importar se mijarmos nas suas
escovas de dente? Não vão se importar tanto assim. Preste atenção. Do que é que
eles gostam?”
“Eles gostam de dinheiro”, eu disse, apontando para o pôster. Ela jogou
as mãos para o alto, irritada.
“Todos eles gostam de dinheiro, Gordo. Tudo bem. Entre no banheiro eme diga o que você está vendo.”
Aquele joguinho estava me deixando um pouco irritado, mas eu entrei
no banheiro enquanto ela se sentava no sofá convidativo. No chuveiro havia mais
de dez garrafas de xampu e de condicionador. No armário de remédios,
encontrei um frasco cilíndrico de algo chamado Rewind. Tirei a tampa – o gel
azulado tinha cheiro de flores e álcool etílico, como um salão de cabeleireiros
para gente rica. (Debaixo da pia, encontrei um tubo de vaselina tão grande que só
poderia ter uma serventia, mas não quis pensar naquilo). Voltei para o quarto e
disse, empolgado, “Eles gostam do cabelo.”
“Isso!”, ela gritou. “Dê uma olhada no beliche de cima.” Perigosamente
equilibrado na estreita cabeceira de madeira, um tubo de gel STAYWET. “O
Kevin não acorda simplesmente com o cabelo espetado e uma cara de sono,
Gordo. Ele se esforça para ficar assim. Ele ama o cabelo. E eles deixam os
produtos aqui. Gordo, porque têm mais em casa. Todos esses garotos são iguais.
Sabe por quê?”
“Porque querem compensar o pinto pequeno?”, perguntei.
“Ah! Ah! Não. Isso eles fazem agindo como machões e babacas. Eles
gostam do cabelo porque não tem inteligência suficiente para gostar de algo mais
interessante. Então vamos atingi-los onde dói: no couro cabeludo.”
“Hum...OK”, eu disse, não sabendo ao certo como pregar uma peça no
couro cabeludo de alguém.
Ela se levantou, foi até a janela e se inclinou sobre o parapeito,
rebolando para sair. “Não olha para minha bunda!”, ela disse, então olhei para a
bunda dela, alargando-se sinuosamente da cintura fina até as coxas. Ela deu uma
cambalhota com certa facilidade e saiu pela janela semiaberta. Eu preferi adotar
o método do “pé primeiro”, passando os pés para o outro lado, inclinando o corpo
para trás e escorregando pela abertura estreita.
“Certo”, ela disse. “Isso foi estranho. Vamos para o Buraco do Fumo.”
Ela arrastou os pés pela estrada de saibro até a ponte, querendo levantar
poeira, como se estivesse andando de esqui. Enquanto descíamos a quase trilha
da ponte até o Buraco, ela se virou para trás, olhou para mim e parou. “Onde
será que se compra tinta azul industrial?”, disse, então segurou o galho para eu
passar.

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