supostamente sem-teto.
Ganhei um relógio bacana e uma carteira nova - “presentes de adulto”.
Meu pai disse. Mas, naquelas duas semanas, passei a maior parte do tempo
estudando. O feriado de Natal não era bem um feriado, visto que era nossa
ultima oportunidade de estudar para as provas, que começavam logo no primeiro
dia de volta as aulas que mais ameaçam meu objetivo de ficar com media 9,0.
Queria poder dizer que estudando porque gostava de aprender, mas a verdade
que estava estudando para conseguir entrar numa boa faculdade.
Então passei a maior parte do tempo trancado em casa, estudando pré
calculo e decorando o vocabulário de francês, exatamente como fazia antes de
Culver Creek. As duas semanas em casa não foram muito diferentes do resto de
minha vida antes do colégio interno,exceto que meus pais estavam mais
emotivos. Embora eu tivesse querido passar feriado de Ação de Graças em
Culver Creek, eles se sentiam culpados. É bom ter pessoas que sintam culpados
por sua causa, se bem que eu poderia ter sobrevivido sem a choradeira de minha
mãe nos jantares de família. Ela dizia: “Sou uma péssima mãe”, e meu pai logo
recrutava: “Não,é não.”
Até meu pai, que é afetuoso, mas não chega a ser emotivo, disse
gratuitamente, enquanto assistíamos aos Simpsons, que sentia minha falta. Eu
disse que também sentia falta dele, e era verdade. Mais ou menos. Eles são tão
bonzinhos. Fomos ao cinema e jogamos baralho,e eu lhes contei as historias que
podia contar sem horroriza-los, e eles ouviram. Meu pai, que era corretor de
imóveis e lia mais livros do que qualquer pessoa que eu conhecia,conversou
comigo sobre os livros da aula de inglês, e minha mãe insistiu para que eu me
sentasse na cozinha e aprendesse a fazer pratos simples – macarrão instantâneo e
ovos mexidos – agora que eu estava “morando sozinho”.
Mesmo que eu não tivesse, ou quisesse, uma cozinha. Mesmo que eu não
gostasse de ovos ou de macarrão instantâneo. Quando chegou o Ano Novo, eu já
tinha aprendido a preparar um tanto quanto o outro.
Quando fui embora, os dois choraram, ,tinha mãe explicando que era
apenas a síndrome do ninho vazio, que estavam muito orgulhosos de mim e que
me amavam muito. Aquilo me deu um nó na garganta, e eu esqueci o feriado de
Ação de Graças. Eu tinha uma família.

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