divide seu lado escuro de seu lado claro. Ela descansa baixa sobre a
movimentada Castro, visível mais cedo do que a noite anterior. O outono está
chegando. Desde que eu me lembro, eu converso com a lua. Pedindo a ela por
conselho. Tem algo sobre seu pálido brilho, sua superfície cheia de crateras e
seus altos e baixos que é profundamente espiritual. Ela usa um novo vestido toda
noite, ainda sim, ela é sempre ela mesma.
E ela sempre está lá.
Já que meu turno acabou mais cedo, eu peguei o ônibus e o metro para casa.
Eu não sei bem porque estou tão aliviada de estar de volta no meu bairro. Não é
como se o trabalho tivesse sido difícil. Mas a familiaridade da Rua Castro me
conforta - o glitter na calçada, a quentura radiante dos cookies de chocolate da
Hot Cookie, os grupos de homens batendo papo, a arrumação antecipada de
Halloween na janela das Variedades do Cliff.
Tenho sorte de viver num lugar que não tem que esconder o que é. Negócios
como a Fábrica de Salsicha (restaurante), Spunk (salão de cabeleireiro), e
Trabalho Manual (manicure) são claros sobre os moradores, mas tem um senso
genuíno de amor e comunidade. É uma família, todo mundo conhece o negócio
de todo mundo, mas não acho que isso seja uma coisa ruim. Eu gosto que os
caras do café Spike‘s acenem quando eu passo. Eu gosto que os caras do
Jeffery‘s saibam que Betsy precisa da caixa grande de carne de carneiro fresca,
batata doce e vegetais. Eu gosto...
— LOLA !
Uma facada em meu estômago. Apreensivamente me viro para encontrar
Cricket Bell fazendo um giro em torno de um casal mais velho que está entrando
na mercearia Delano‘s enquanto ele está saindo. Ele está segurando uma caixa
de ovos caipiras em cada mão. — Você está indo pra casa? Tem um minuto?
Não consigo encontrar seus olhos. — Yeah. Yeah, claro.
Enquanto ele dá uma corridinha pra me alcançar, eu continuo andando em
frente. Ele está vestindo uma blusa branca, com um colete preto, e uma gravata
preta. Ele se pareceria com um garçom, exceto que está usando também suas
pulseiras coloridas e elásticos de borracha.
— Lola, eu quero me desculpar.
Eu congelei.
— Me sinto como um imbecil, um idiota total por… Por te colocar naquela
situação semana passada. Me perdoe. Eu devia ter perguntado se você tinha um
namorado, não sei por que não perguntei. — Sua voz está cheia de dor. — É claro
que você teria um namorado. Você sempre foi essa garota legal, maravilhosa e
te ver de novo trouxe de volta toda essa confusão de emoções e… Eu não sei o
que dizer, mas eu confundi as coisas, e me perdoe. Não vai acontecernovamente.
Estou chocada,
Não sei o que eu esperava que ele dissesse, mas certamente não era isso.
Cricket Bell acha que sou legal e maravilhosa. Cricket Bell acha que eu sempre
fui legal e maravilhosa.
— E eu espero que isso não deixe as coisas ainda mais estranhas — ele
continua. — Eu só quero esclarecer as coisas. Eu acho você incrível, e ser seu
amigo nesse verão foi o melhor verão da minha vida, e… Eu só quero ser parte
da sua vida. De novo.
Não consigo nem pensar direito. — Certo.
— Mas eu entenderei se você não quer me ver...
— Não — eu digo rapidamente.
— Não? — Ele está nervoso. Ele não entende o que eu quero dizer.
— Eu quero dizer… Nós ainda podemos passar um tempo juntos. — Eu
continuei cuidadosamente. — Eu ia gostar disso.
Cricket relaxou, aliviado. — Você gostaria?
— Yeah. — Estou surpresa por quão óbvio isso é. Claro que o quero de volta
em minha vida. Mesmo enquanto ele estava fora, alguma parte de seu espírito
ficou pra trás. Eu o sentia no espaço entre nossas janelas.
— Eu quero que você saiba que eu mudei — ele diz. — Eu não sou mais
aquele cara.
Seu corpo vira energicamente para encarar o meu, e o movimento me
alarma. Eu tropeço nele e bato em seu peito, e uma das caixas de ovos cai de sua
mão e despenca em direção à calçada. Cricket prontamente a pega antes que
encontre no chão.
— Desculpe! Me desculpe mesmo! — eu digo.
O lugar onde seu peito toca o meu queima. Todo lugar onde seu corpo toca o
meu parece vivo. Que tipo de cara ele pensava que era, e quem ele é agora?
— Está tudo bem. — Ele espia dentro da caixa. —Nenhum dano causado.
Todos os ovos contados.
— Aqui, deixe-me pegar isso. — Eu alcanço uma caixa, mas ele a segura
sobre sua cabeça. Está bem fora do meu alcance.
— Está tudo bem. — Ele sorri suavemente. — Eu tenho uma pegada muito
melhor das coisas agora.
Eu tento a outra caixa. — O mínimo que eu posso fazer é levar uma.
Cricket começa a levantar a outra, também, mas algo solene cruza seus olhos.
Ele as abaixa e me dá uma. Nas costas de sua mão lê-se: OVOS. — Obrigado —
ele diz.
Eu olho para baixo. Alguém desenhou uma amarelinha no ladrinho com giz
rosa. — De nada.
— Mas eu precisarei deles de volta. Minha mãe estava desesperada como oinferno atrás desses ovos, e ela me pediu que pegasse esses. Missão muito
importante.
Silêncio.
Esse é o momento. Que eu ou deixo as coisas estranhas permanentemente ou
eu torno a nossa amizade genuína. Eu olho pra cima - e então mais pra cima, até
alcançar seu rosto - e pergunto — Como está a faculdade?
Cricket fecha os olhos. É só por um momento, uma respiração, mas é
suficiente para me mostrar o quão grato ele está por minha pergunta. Ele quer
estar em minha vida.
— Bem — ele diz. — Está... Bem.
— Eu sinto um, mas.
Ele sorri. — Mas faz um tempo desde toda aquela coisa de cercado-poroutros-alunos.
Eu acho que leva um tempo pra se acostumar a isso.
— Você quer dizer que estudou em casa? Depois que se mudou?
— Bem, nos mudamos tanto que foi mais fácil do que enrolar de novo e de
novo, sempre tendo as mesmas aulas. Sempre sendo o garoto novo. Nós já
fizemos antes, e nós não queríamos fazer de novo. Além disso, nos permite
trabalhar em torno da agenda de Cal.
A última frase me prende a um tópico desconfortável. — E a sua agenda?
— Ah, não é tão ruim quanto parece. Ela só tem agora para fazer isso. Ela
tem que correr atrás disso enquanto pode — Eu devo parecer não-convencida,
pois ele acrescenta — Mais cinco anos, e será minha vez no holofote da família.
— Mas porque não pode ser sua vez agora, também? Talvez eu esteja sendo
egoísta, por ser filha única...
— Não, você está certa. — E eu capto o primeiro sinal de cansaço entre sua
testa e seus olhos. — Mas as nossas circunstâncias são diferentes. Ela tem um
dom. Não seria justo da minha parte não fazer tudo o que puder pra apoiá-la.
— E o que ela faz pra suportar você? — Eu perguntei antes que pudesse me
impedir.
A expressão de Cricket obscurece. — Ela lava a louça. Leva o lixo para fora.
Leva a caixa de cereal para fora por mim nos finais de semana.
— Desculpe. — Olho para longe. — Estou sendo fofoqueira.
— Está tudo bem, não ligo. — Mas ele não respondeu à minha pergunta.
Nós andamos em silêncio por um minuto, quando algo me atinge. — Hoje.
Hoje é seu aniversário!
Sua face vira para longe da minha rápida como um reflexo.
— Por que você não disse nada? — Mas eu sei a resposta antes de terminar a
pergunta. Memórias da última vez que o vi em seu aniversário me preenchem
com humilhação instantânea.
Cricket mexe inquieto em suas pulseiras. — Yep. Dezoito.
Eu sigo sua deixa para manter a conversa em andamento. — Um adulto.Oficialmente.
— É verdade, me sinto inacreditavelmente maduro. Então de novo,
maturidade sempre foi minha maior força.
A essa altura, sua habitual auto-depreciação me faz recuar. Ele sempre foi
mais maduro. Exceto, talvez, perto de mim. — Então… Você está aqui para
visitar Calliope? — Eu balanço minhas mãos conforme o embaraço continua. —
Claro que você está. É aniversário dela, também. Eu só estou surpresa de te ver,
já que é sábado à noite. Eu imaginei que você estaria em alguma festa pela baía,
virando cerveja e plantando bananeira.
Ela coça a lateral do pescoço. — Cal nunca admitiria isso, mas está sendo um
ajuste difícil para ela. Eu estando fora enquanto ela ainda está em casa. Não que
eu não fosse vir em casa hoje à noite, é claro que eu viria. E na verdade eu
realmente passei em uma dessas festas por um minuto como um favor a alguém,
mas… Talvez você não tenha notado. — Cricket ajeita sua gravata. — Eu não sou
do tipo que vai à chopadas.
— Nem eu. — Eu não tenho que explicar que é por causa de Norah. Ele sabe.
— E o seu namorado? — Sua voz trai uma tranqüilidade forçada.
Estou envergonhada que ele tenha pensado isso, mas não posso negar que
Max parece esse tipo. — Ele também não é um cara festeiro. Não realmente. Eu
quero dizer, ele bebe e fuma, mas respeita meus sentimentos. Ele nunca pede
que me junte a ele ou qualquer coisa do tipo.
Cricket passa debaixo de um ramo de flores rosa em nosso caminho. No
nosso bairro floresce o ano todo. Eu passo por baixo sem precisar me abaixar. —
O que seus pais pensam sobre você namorar alguém tão velho? — ele pergunta.
Eu estremeço. — Você deveria saber que estou realmente cansada de ter
esta conversa.
— Desculpe-me. — Mas então, como se ele não pudesse evitar — Então,
uh… Quantos anos ele tem?
— Vinte e dois. — Por algum motivo, admitir isto a ele é desconfortável.
Uma longa pausa. — Wow. — A palavra é lenta e pesada.
Meu coração martela. Eu quero ser sua amiga, mas em que planta isso
funcionaria? Tem história demais entre nós para amizade. Nós subimos o aclive
de nossa rua silenciosamente até alcançarmos minha casa. — Tchau, Cricket. —
Não consigo encontrar seus olhos novamente. — Feliz aniversário.
— Lola?
— Sim?
— Ovos. — Ele aponta. — Você está com meus ovos.
Oh.
Envergonhada, eu estendo a caixa. Seus longos dedos a alcançam, e eu me
encontro torcendo pelo contato físico. Mas ele não vem. Ele pega a caixa pelas
bordas. É um movimento cauteloso, deliberado. Me lembra que eu não deveriaestar com ele.
E me lembra que eu não posso contar a Max.

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