Capítulo 9

É complicado admitir, mas quando Max e eu saímos, eu quero ficar mais,
andar mais longe, falar mais alto, para que mais pessoas possam nos ver juntos.
Eu quero encontrar cada colega que sempre me sacaneou por eu usar sapatos
pontudos com ponta de elfo ou colares de contas, porque eu sei que eles irão
olhar para Max com suas sobrancelhas escuras, braços tatuados e cara de mau e
saber que eu estou fazendo alguma coisa certa.
Normalmente, eu estou cheia de orgulho. Mas enquanto nós voltamos para
sua nova van, eu não noto a cara de ninguém que passa. Porque Cricket Bell me
chamou pra sair. Cricket Bell me chamou pra sair. O que eu devo fazer com essa
informação?
Max abre a porta do lado do passageiro e segura para eu entrar. Nenhum de
nós falou desde que saímos da Amoeba. Eu murmuro um agradecimento e
começo a entrar. Ele sobe no lado do motorista, vira a chave na ignição, e então
diz:
— Eu não gosto dele.
A frieza do seu tom faz meu estômago virar. — Cricket? Por quê?
— Só não gosto.
Eu não consigo responder. Eu não sei o que eu dizer. Ele não quebra o silêncio
novamente até que passamos a marca de neon do Teatro Castro, apenas algumas
quadras da minha casa. — Por que você não me contou sobre ele?
Eu olho para minhas mãos. — Ele não é importante.
Max espera com a expressão tensa.
— Ele só me machucou. É só isso. Isso foi há muito tempo atrás. Eu não gosto
de falar dele.
Ele vira pra mim, lutando para se manter calmo. — Ele machucou você?
Eu afundo em meu lugar, querendo qualquer coisa menos esta conversa. —
Não. Não assim. Nós costumávamos ser amigos, e tivemos um desentendimento.
Agora, ele está de volta e eu estou encontrando com ele em todos os lugares
— Você encontrava com ele antes. — Ele está olhando para a estrada
novamente. Apertando os nós dos dedos no volante.
— Só... Na vizinhança. Ele não é importante. Ok, Max?
— Parece que uma omissão gritante para mim.
Sacudo a cabeça. — Cricket não significa nada para mim. Eu juro.
— Ele quer sair com você todas as noites, e você espera que eu acredite que
não há nada acontecendo?
— Não há!
A van dá uma freada na frente da minha casa, e Max bate no volante. —
Diga a verdade, Lola! Porque você não pode me dizer a verdade de uma vez?
Meus olhos ardem com lágrimas. — Estou dizendo a verdade.
Ele olha para mim.— Eu te amo. — Estou ficando desesperada. Ele tem que acreditar em mim.
— Eu não o amo, eu nem gosto dele! Eu te amo. Max fecha os olhos o que
parece uma eternidade. Os músculos do pescoço estão tensos e rígidos. Até que
eles relaxam. Ele abre os olhos novamente. — Desculpa. Eu também te amo.
— E você acredita em mim? — Minha voz é baixa.
Ele se puxa meu queixo na direção dele e me responde com um beijo. Seus
lábios pressionam com força contra os meus. Eu empurro de volta ainda mais
forte contra o dele. Quando nos separamos, ele olha no fundo dos meus olhos. —
Eu acredito em você.
Max sai em sua van, o Misfits explode em uma nuvem musical de poeira
atrás dele. Eu caio.
Tanta coisa para o meu dia de folga.
— Quem era aquele?
Eu me assusto com a voz forte atrás de mim. Então, me viro para encará-la
pela primeira vez em dois anos. Seu cabelo escuro está puxado para trás em um
rabo de cavalo apertado, e ela está usando casaco. E ela ainda consegue ficar
mais bela do que eu jamais o ficaria.
— Ei, Calliope.
Ela me encarou como se dissesse: — Por que você não respondeu a minha
pergunta.
— Aquele era meu namorado.
Calliope olha surpresa. — Interessante — ela diz depois de um momento. E
eu posso dizer que ela está realmente interessada. — Meu irmão te achou? Ele
saiu procurando por você.
— Ele achou. — Eu falo as palavras com cuidado. Ela está esperando mais,
mas eu não vou dar mais nada pra ela. Eu nem sei o que seria mais. — Bom te
ver de novo. — Eu andei na direção das escadas.
Eu estava no meio do caminho em frente a minha porta quando ela fala —
Você está diferente.
— E você está igual.
Eu fecho a porta e Nathan está esperando no outro lado. — Você não ligou.
Oh, não.
Ele está furioso. — Você deveria me ligar a mais de uma hora atrás. Liguei
cinco vezes, e foi direto para o correio de voz. Onde você esteve?
— Eu esqueci. Me desculpa, pai. Eu esqueci.
— Aquele na van era o Max? Ele comprou um carro novo?
— Você estava OLHANDO?
— Eu estava preocupado, Lola.
— ENTÃO VOCÊ DECIDE ME ESPIONAR?
— Você sabe por que os garotos compram vans? Você sabe??
— PRA GUARDAR SUAS GUITARRAS E BATERIAS? Para fazer suasTURNÊS? — Eu quase o atropelei e subi pro meu quarto.
Meu pai pula nas escadas atrás de mim. — Essa conversa ainda não acabou.
Nós temos um acordo pra quando você sair com Max. Você tem que avisar.
— O que você pensa que vai acontecer? Por que você não confia em mim?
— Eu tirei a peruca rosa e a joguei do outro lado do quarto. — Eu não estou me
embebedando ou usando drogas ou quebrando janelas. Eu não sou ela. Eu não
sou Norah.
Eu fui muito longe. A menção de sua irmã, o rosto de Nathan ficou tão
magoado e torcido que eu sei que eu fui em cheio. Eu me preparo para ele brigar
comigo. Em vez disso, ele se vira sem dizer uma palavra. Que, de alguma forma,
é pior. Mas a culpa é dele por me punir por coisas que eu não fiz. Por coisas que
ELA fez.
Como esse dia ficou tão ruim? Quando isso aconteceu
Cricket.
Seu nome explode dentro de mim como tiros de canhão. Eu vou em direção a
nossas janelas. Suas cortinas estão abertas. As bolsas que ele trouxe para casa
ainda estão no chão, mas não há sinal dele. O que eu devo dizer que da próxima
vez que nos vermos? Por que ele não para de arruinar a minha vida?
Por que ele tinha que me chamar pra sair?
E Max sabe sobre ele. Isso não deveria fazer diferença. Mas faz. Max não é
do tipo de falar sobre o que incomoda. É do tipo de guardar o problema. Guardar
pra quando ele precisar. Ele acreditou em mim quando eu disse que o amava?
Que eu não gostava de Cricket?
Sim. Ele acreditou.
E eu estou apaixonada pelo Max. Então, por que eu não sei se a outra parte
era mentira?
Eu não sou a única com problemas com garotos. Lindsey estava
extremamente distraída esta semana. Ela não percebeu quando o nosso professor
de matemática errou a fórmula de Baskara na segunda-feira. Ou quando Marta
Velazquez, a garota mais popular da escola, esqueceu de tirar a etiqueta de
tamanho da calça jeans na terça-feira. Sua calça dizia: 12 12 12 12 12. Como
Lindsey não notou quando eu sentei lá atrás na aula de História Americana
durante uma hora?
Antes de quinta-feira na hora do almoço, quando Charlie Harrison Ming passa
por nós e diz: — Oi, Lindsey — e ela gagueja: — Ei, Charlie — que eu não
percebi a questão. E então eu vejo que eles estão usando exatamente os mesmos
Mandris21 vermelhos. Lindsey é ótima para resolver problemas de outras
pessoas, mas seus próprios?
Sem chance.
— Você poderia dizer algo sobre os sapatos — eu sugeri.
— Você é a garota das roupas — ela diz miseravelmente. — Eu pareço bobafalando sobre essas coisas.
Hoje estou usando óculos de gatinha e um vestido de oncinha que eu fiz na
última primavera. Eu coloquei uns broches vermelhos enormes parecidos com
feridas de bala na frente do vestido, e coloquei fitas vermelho-sangue amarradas
de cima a baixo nos meus braços e nos meus cabelos naturais. Eu estou
protestando contra esse esquema de caça na África.
— Você nunca parece boba — eu falo. — E não sou eu que estou usando os
tênis dele.
— Eu já te disse que eu não quero sair com ninguém. — Mas ela não parecia
convencida disso.
— Eu te apoiarei sempre. Não importa o que você decidir. Você sabe né?
Lindsey enfiou seu nariz dentro de um romance policial super emocionante e
a nossa conversa acabou. Mas ela não está lendo. Ela está olhando através das
páginas. Seu olhar me dá uma sensação familiar - é a expressão no rosto de
Cricket a última vez que o vi. Ele não voltou para casa na semana passada. Suas
cortinas ainda estão abertas, e as malas ainda estão no seu andar. Eu estou
estranhamente fascinada por sua mochila. É uma mochila velha de couro
marrom, o tipo que deve ser usada por um professor universitário ou um
explorador da selva. Eu quero saber o que tem dentro dela. Provavelmente,
apenas uma escova de dentes e uma muda de cuecas.
Ainda parece solitário. Até mesmo o cesto de roupa suja é triste, só pela
metade.
Meu telefone vibra mais uma vez contra a minha perna, através da mochila
aos meus pés, sinalizando um texto. Ops. Nós deveríamos mantê-los desligado na
escola. De qualquer maneira, quem teria prazer em me enviar uma mensagem
agora? Eu abaixo para pegá-lo, e os meus óculos - um par vintage que não vestiu
muito bem - caiu no cimento.
Eles têm que estar bem abaixo de mim, mas eu não consigo vê-los. Eu não
posso ver nada. Eu ouço a confusão de vozes altas de uma multidão de meninas
de título nosso caminho.
— Eca, eca, eca...
Lindsey rouba meus óculos pouco antes de bater as meninas. Eles passam
zumbindo, um enxame de perfume e risos. — Será que a sua visão vai piorar de
novo?
Eu os coloco, e o mundo volta em foco. Eu franzo a testa. — Por favor. Fica
pior a cada ano. Nesse ritmo, vou ficar cega aos vinte.
Ela acenou com meus óculos. — E quantos pares você tem agora?
— Só três. — Eu queria que eles não fossem tão caros. Eu os comprei pela
internet com desconto, mas eles custaram todo meu salário. Meus pais pagam
minhas lentes de contato, mas eu gosto de variar. Eu preferiria mais variedade.
Eu dou uma olhada no meu celular, e levo um susto com uma mensagem doMax: Vi dois ramos caídos na forma de um coração. Pensei em você.
Eu rio feito uma idiota.
— Quem é? — Lindsey pergunta.
— Max! — Então eu vejo o olhar em seu rosto. Eu fico séria e desligo meu
telefone. — Não é nada... Ele viu alguma coisa.
Ela abre seu livro novamente. — Ah.
Então, me vem à cabeça: a solução perfeita para o problema dela. Charlie
está super interessado nela e Lindsey só precisa de alguém para ajudá-la a
passar por estes primeiros passos. Ela precisa de mim. Um encontro duplo! SOU
UMA GÊNIA! Eu estou... Saindo com Max. Que nunca aceitaria uma coisa
dessas. Eu olho pra minha melhor amiga que está encarando seu livro de mistério
novamente. Tentando resolver seu próprio mistério. Eu seguro o telefone em
minhas mãos e mantenho minha boca fechada.
Eu me sinto tão desleal a ela.
Eu tenho um turno na madrugada de sábado. Fechei ontem à noite. Parece
que eu nunca saí do trabalho, como eu deveria acabar logo com isso e coloquei o
meu antigo saco de dormir das Princesas da Disney debaixo do balcão de
atendimento do sétimo andar. Quando eu chego ao teatro, fico surpresa ao
descobrir St. Clair atrás da bilheteria. Anna não está escalada para trabalhar hoje.
Eu estou mais surpresa quando noto que ele está vestindo.
— O que aconteceu com o uniforme? — Eu pergunto
Ele fica sério. Foi lento e com o corpo inteiro que ele mostrou sua seriedade e
o fez parecer... Mais europeu.
— Um dos gerentes disse que eu passava muito tempo aqui, que eu deveria
estar trabalhando. Então eu estou.
— Espera. Você está trabalhando aqui?
— Sim, mas não conta pra ninguém. É segredo. — Ele arregala os olhos
brincando.
— Você. Trabalhando? — St. Clair nunca fala sobre isso, mas todo mundo
sabe que sua família tem dinheiro. Ele não precisa trabalhar. Nem parece uma
pessoa que quer.
— Você não acha que eu consigo trabalhar rasgando bilhetes?
— Meus pés exaustos dizem que é um pouco mais do que isso.
St. Clair sorri e meu coração pula uma batida. Ele é realmente atraente. Qual
é o meu problema? Eu devo estar mais cansada do que pensei. Eu não estou
interessada no namorado da Anna - ele é muito pequeno, muito arrogante - mas
o fato de eu ter reparado nele me incomoda. Eu mergulho no trabalho em outro
andar para me distrair dos pensamentos cada vez mais desconfortáveis. Mais
tarde, St. Clair se aproxima de mim, uma vez que já nos acalmamos de um
período agitado. — Meus pés se sentem muito bem — ele diz. — Na verdade,
estou pensando em formar um grupo de dança. Você estaria interessada?— Ah, que saco! — Eu ainda estou irritada. As seis pessoas que reclamaram
comigo sobre a nossa garagem também não ajudaram a situação. — Sério? Por
que você quer um emprego?
— Porque eu pensei em construir uma imagem. — Ele pula para o meu
balcão. — Porque todos os meus dentes caíram e eu estou sem dinheiro pra
pagar dentaduras. Por que...
— Ótimo. Seja lá o que for. Seja um babaca.
— Eu deveria estar fazendo algo produtivo, não deveria? — St. Clair pula de
volta para baixo e pega uma vassoura do armário de abastecimento. — Tudo
bem, tudo bem. Eu estou economizando para o nosso futuro.
— Nosso futuro? — Dou um sorriso tímido. — Estou lisonjeada, realmente,
mas isso é desnecessário.
Ele cutuca minhas costas com a ponta da vassoura.
— E Anna sabe que você está economizando para seus futuros juntos?
— Claro. — St. Clair varre a pipoca caiu em volta dos meus pés enquanto eu
tomo uma Coca Diet e como um pretzel que alguém pediu. Quando eu termino,
ele continua. — Você acha que eu iria conseguir um emprego e não conversar
com ela antes?
— Não. Mas eu pensei... Sei lá... — Ele me olha confuso e eu sou forçada a
concluir meu pensamento. — Pensei que você tivesse dinheiro.
St. Clair explode de tanto rir, como se eu tivesse dito algo idiota. — Meu pai
tem dinheiro. E eu gostaria de mantê-lo fora do meu futuro.
— Isso soa... Ameaçador.
A seriedade européia de novo. Dessa vez, eu mudei de assunto. — E seria
legal eu ter um pouco de dinheiro pra gastar e poder levá-la pra sair. Nós
tendemos a comer, principalmente, nas lanchonetes dos nossos alojamentos. —
Ele fecha a cara. — Pense nisso: nós sempre comemos nas lanchonetes da
escola.
— Em Paris?
— Em Paris — ele confirma.
Eu suspiro. — Você não tem idéia de quanto é sortudo.
— Na verdade, estou certo que sou. — St. Clair encosta a vassoura na parede.
— Então, por que você trabalha? Para manter hábitos não-saudáveis? E sobre o
que é seu cabelo hoje?
— Eu queria ver como ele ficaria em pequenos coques. E então eu adicionei
as penas, para que eles pareçam ninhos.
Ele está certo. É assim que eu sou. Ainda mais porque meus pais dizem que
quando eu fizesse dezesseis anos eu teria que conseguir um emprego de meio
período para aprender sobre responsabilidade. Assim eu fiz.
St. Clair examinou meu cabelo de perto. — Espetacular.
Eu dei um passo pra trás. — Exatamente, até quando no futuro você estáplanejando?
— Distante.
O silêncio fica entre nós, cheio de força e significado. Max e eu falamos em
fugir para Los Angeles e iniciar uma nova vida juntos - eu desenhando figurinos
elaborados de dia, ele destruindo clubes de rock de noite - mas tenho a sensação
de que as conversas de St. Clair com Anna são mais sérias do que as que eu tenho
com Max. O pensamento me deixa inquieta. Eu fico olhando para St. Clair.
Ele não é tão mais velho que eu.
Como ele pode ser tão confiante?
— Quando está certo, é simples. — Ele disse para minha pergunta mental. —
Ao contrário de seu cabelo.

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