Capítulo 22

Eu estou discutindo sobre Max com a lua, mas é extremamente insatisfatório.
Seus raios estão lançando uma estranha luminescência na janela de Cricket. —
Max não gosta quando eu me visto informal, mas ele joga a minha aparência
habitual na minha cara quando brigamos. Eu nunca sou o que ele precisa que eu
seja.
A lua se escurece pelas nuvens que a cobre.
— Ok, eu menti para ele. Mas você viu como ele fica com ciúmes. Fez-me
sentir como se eu tivesse. E eu não deveria ter que defender o meu direito de ser
amiga de outro cara.
Eu espero. O céu permanece escuro.
— Ótimo. A situação com você-sabe-quem é estranha. Talvez... Max e
Calliope não estão tão longe. Mas para começar, nunca tive a confiança de Max,
como ele pode esperar que eu confie nele em troca? Você vê o que eu quero
dizer? Você vê o quão confuso que é? — Eu fecho meus olhos. — Por favor, me
diga. O que eu faço?
A luz atrás das minhas pálpebras suavemente se ilumina. Abro os olhos. As
nuvens se moveram, e a janela de Cricket é iluminada pelo luar.
— Você tem um doente senso de humor — eu digo.
Seus raios não vacilam. E sem saber como isso acontece, me encontro
removendo um punhado de grampos para cabelos da minha mesa. Os atiro em
sua janela. Dink! Dink! Dink! Sete grampos depois, Cricket abre sua janela.
— Doces ou travessuras — eu digo.
— Há algo de errado? — Ele está sonolento e desorientado. Ele também está
apenas vestindo sua cueca boxer, suas pulseiras e elásticos.
OHMEUDEUS. ELE SÓ ESTÁ VESTINDO UMA CUECA BOXER.
— Não.
Cricket esfrega os olhos. — Não?
NÃO OLHE PARA O SEU CORPO. NÃO OLHE PARA O SEU CORPO.
— Você foi a algum lugar divertido esta noite? Eu fiquei aqui dentro e
entreguei doces. Nathan comprou coisas boas, chocolates de marca, não a
mescla barata que geralmente recebe, você sabe, como os Tootsie Pops e Dots e
esses pequenos Tootsie Rolls em sabores como limão, eu acho que você teve um
monte de crianças em sua casa, também, hein?
Ele olha para mim sem entender. — Você me acordou... Para falar sobre
doces?
— Ainda ta muito quente aqui fora, não é? — Eu deixo escapar. E ENTÃO
EU QUERO MORRER.
Porque Cricket se transforma em pedra, ao se dar conta do estado de quase
nudez em que seu corpo se encontra. O qual eu não, não, estou olhando. Em tudo.
— Vamos dar um passeio!Minha exclamação o descongela. Suas bordas estão fora de vista, tratando de
deixar que tudo se esfrie.
— Agora? — ele pergunta da escuridão. — São... 02h42min da manhã.
— Eu poderia precisar de alguém para conversar.
Cricket aparece de volta. Ele localizou suas calças. Ele esta as usando.
Eu coro.
Ele me examina por um momento, puxa uma blusa sobre a sua cabeça, e
então acena com a cabeça. Desço furtivamente as escadas, passo o quarto dos
meus pais, e o quarto temporário de Norah, e chego à rua sem ser detectada.
Cricket já está lá. Eu estou usando uma calça de pijama com um sushi impresso
e uma camisola branca. Vendo ele completamente vestido de novo me faz sentir
despida, um sentimento que se intensificou quando o percebo olhando minha pele
nua. Caminhamos até a colina da esquina de nossa rua. De alguma forma, nós
dois sabemos onde estamos indo.
A cidade está em silêncio. O espírito do Halloween tinha ido dormir.
Chegamos ao morro ainda maior que nos separa do Dolores Park. Oitenta
passos conduzem para o topo. Eu contei. Cerca de vinte para cima, ele para. —
Você vai dizer o que está em sua mente, ou você vai me fazer adivinhar? Porque
eu não sou bom em jogos de adivinhas. As pessoas devem dizer o que quer dizer,
e não fazer as outras pessoas tropeçarem em tudo.
— Desculpe.
Ele sorri pela primeira vez em muito tempo. — Hey. Não se desculpe.
Eu sorrio de volta, mas vacilo.
O seu também desaparece — É Max?
— Sim — eu digo baixinho.
Caminhamos lentamente as escadas de novo. — Ele parecia surpreso em me
ver hoje. Ele não sabe que nós saímos, sabe?
A tristeza em sua voz me faz subir mais lentamente. Eu envolvo meus braços
ao meu redor. — Não. Ele não sabia.
Cricket pára. — Você tem vergonha de mim?
— Por que eu deveria ter vergonha de você?
Ele coloca as mãos nos bolsos. — Porque eu não sou legal.
Estou demolida. Cricket não é legal no mesmo sentido que Max, mas ele é a
pessoa mais interessante que eu conheço. Ele é gentil, inteligente e atraente. E ele
está bem vestido. Cricket está REALMENTE bem vestido. — Como você pode
pensar isso?
— Vamos lá. Ele é um sexy deus do rock, e eu sou o garoto da porta ao lado.
O estúpido nerd da ciência, que passou toda sua vida na margem das pistas de
patinação artística. Com sua irmã.
— Você não é... Você não é um nerd, Cricket. E mesmo se você fosse, o que
há de errado com isso? E desde quando ciência é estúpida?Ele parece agitado fora do usual.
— Oh, não — eu digo. — Por favor, me diga que isto não é sobre o seu
tatara-tatara qualquer que seja avô. Porque isso não significa nada.
— Isso significa tudo. A herança que pagou por nossa casa, que paga o
treinamento de Calliope, que paga minha educação universitária, que comprou
tudo que já tive... E que não era nosso. Você sabe o que aconteceu com
Alexander Graham Bell depois que se tornou famoso? Ele passou o resto de sua
vida se escondendo em uma parte remota do Canadá. Com vergonha do que ele
tinha feito.
— Então, por que ele fez isso?
Cricket passa a mão pelos cabelos. — Pela mesma razão que todos cometem
erros. Ele se apaixonou.
— Oh. — Isso dói. Eu nem tenho certeza por que dói tanto, mas dói.
— Seu pai era rico e poderoso. Alexander não era. Ele tinha idéias para o
telefone, mas ele não pôde fazê-las funcionar. Seu pai descobriu que alguém -
Elisha Gray - estava prestes a patentear isso, então eles foram para o escritório
de patentes no mesmo dia que Elisha, copiou sua idéia e a converteu em sua
própria, e afirmaram que estavam lá primeiro. Alexandre tornou-se um dos
homens mais ricos da América e foi autorizado a se casar com a minha ta-tatara
avó. No momento em que Elisha se deu conta do que ele havia feito, já era
tarde demais.
Eu fico surpresa. — Isso é terrível.
— Os livros de história estão cheios de mentiras. Quem ganha à guerra conta
a história.
— Mas Alexandre ainda era um homem inteligente. Ele ainda era um
inventor. Você consegue isso muito honestamente. A vida não é sobre o que você
ganha, é sobre o que você FAZ com o que você ganha.
— Eu crio coisas que não têm uso. — Seu tom é plano. — É tão ruim. Eu
deveria estar criando algo que faz uma diferença, algo que... Compense o
passado.
Eu estou ficando com raiva. — O que você acha que aconteceria se eu
acreditasse que a genética desempenhou esse tipo de papel na minha vida? Se eu
acreditasse que só porque meus pais biológicos tomaram certas decisões, isso
signifique que a minha vida, meus sonhos, se perderam, também? Você sabe o
que isso faria comigo? Você tem alguma idéia do que isso TINHA feito a mim?
Cricket está arrasado. — Eu não estava pensando, eu sinto muito...
— Você deveria. Você tem um dom, e você está duvidando dele. — Eu
sacudo a cabeça para limpar meus pensamentos. — Você não pode deixar esse
tipo de vergonha dizer quem você é. Você não é seu nome. Suas decisões são
próprias.
Ele me mira fixamente.Devolvo o olhar, e meus sentidos aumentam. A energia entre nós ricocheteia
tão ferozmente que me assusta.
Eu quebro o nosso olhar.
Nós subimos o resto do caminho até o topo, e toda a cidade se estende ante
nós. As casas sobressaindo, as colinas douradas, os arranha céus, a baía cintilante.
É impressionante. Sentamos em uma laje vazia de asfalto para ver a vista. É o
caminho de alguém, mas ninguém nos verá. A árvore de eucalipto pendurada
acima de nós libera sua fragrância suave para o ar da noite. Cricket inala longo e
lentamente. Quando exala, suspira. — Eu senti falta disso. Eucalipto sempre me
faz lembrar de casa.
E eu me encho de calor, porque, mesmo com a sua segunda vida em
Berkeley, ele ainda pensa nisso como casa. — Você sabe — eu digo. — Quando
eu era pequena, meus pais ficavam envergonhados pela maneira que eu me
vestia.
— Sério? Isso é surpreendente.
— Eles ficaram com medo de que as pessoas pensassem que ELES estavam
me vestindo assim. Que OS GAYS estavam me corrompendo com cílios postiços
e brilho.
Ele ri.
— Mas eles aprenderam que é quem eu sou, e eles aceitaram. E o apoio me
deu alguma confiança. E então, naquele verão, você me ensinou a aceitar isso
por mim. Para não se preocupar com o que as outras pessoas dissessem. E
depois... As coisas não foram de todo mal.
— Eu fiz?
— Sim, você. Então, eu estou lhe dizendo isso agora. Eu nunca vou esquecer
aquele pássaro mecânico que você fez. Aquele que só cantava quando você
abrisse a porta da gaiola?
— Você se lembra disso? — Ele está confuso.
— Ou os 50 passos da maquina Rube Goldberg para afiar um lápis? Ou
aquele trem louco de dominós que você levou duas semanas para configurar,
mas que se derrubava em um minuto? Isso foi incrível. Só porque algo não é
prático não significa que não vale à pena criar. Às vezes, a beleza e a magia da
vida real são suficientes.
Viro-me para encará-lo, com as pernas cruzadas. — É como o meu vestido
de Maria Antonieta. Não é prático, mas... Por um único momento, chegar a um
baile com um vestido bonito, elaborado e que ninguém mais estará usando e que
todos vão se lembrar? Eu quero isso.
Cricket olha através das luzes da cidade em direção à baía. — Você vai. Você
vai ter isso.
— Não sem sua ajuda. — Eu quero lhe dar um empurrão amigável, mas eu
contento com um soco verbal. — Então você vai começar a fazer os meuspanniers amanhã ou o quê?
— Eu já comecei. — Ele encontra os meus olhos novamente. — Eu fiquei
em casa esta noite, também. Eu não distribuí apenas doce.
Eu estou tocada. — Cricket Bell. Você é o cara mais gentil que eu conheço.
— Sim. — Ele ri pelo nariz. — O cara gentil.
— O quê?
— Isso foi o que minha primeira e única namorada disse quando ela terminou
comigo.
Oh. — Eu estou surpresa. A namorada, por fim. — Essa é... Uma razão
realmente, realmente estúpida.
Cricket se impulsiona para frente, e os seus joelhos quase colidem com o
meu. Quase. — Não é incomum. Garotos gentis terminam em ultimo em tudo.
Há uma indireta a Max em meio a sua auto-depreciação, mas eu a ignoro.
— Quem era ela?
— Uma das amigas de Calliope. No ano passado.
— Uma patinadora artística?
— Minha cena social não se estende muito mais longe.
A notícia me faz infeliz. Patinadoras são lindas. E talentosas. E, tipo,
atleticamente superdotadas. Levanto-me, meu coração batendo nos meus
ouvidos. — Eu preciso ir pra casa.
Ele olha para seu pulso, mas ele não está usando relógio.
— Sim, eu acho que é muito tarde. Ou muito cedo.
Descemos os oitenta degraus da escada até nossa esquina antes de Cricket
parar inesperadamente. — Oh, não. Você queria falar sobre Max. Você…
— Eu acho que nós deveríamos falar esta noite — eu o interrompo com um
olhar para a lua. Ela é uma bola brilhante, quase cheia. — E eu pensei que era
para ser sobre Max, mas eu estava errada. Precisávamos falar sobre você. — Eu
aponto para os meus pés.
Eu estou em cima da palavra BELL.
Está impressa na grade da Pacific Bell, a empresa de telefonia. Elas estão em
toda parte, em cada rua. — Vê? — Eu digo.
— Toda vez que vejo a Rua Dolores eu penso em você — Suas palavras
saem correndo. — Dolores Park. Dolores Mission. Você está em toda parte neste
bairro, você é esse bairro.
Eu fecho meus olhos. Ele não deveria dizer coisa como essas, mas eu não
quero que ele pare. Tornou-se impossível negar que ele significa algo para mim.
Eu não tenho coragem de nomear isso. Ainda não. Mas está lá. Eu abro meus
olhos, e... Ele se foi.
Ele está andando rapidamente pela escada de sua casa.
Outro espírito desaparecido do Halloween.

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