maravilhosa invenção feita com barbante, rodas de um caminhão Tonka e uma
caixa de sapato infantil, e por causa disso, minhas Barbies viajavam do primeiro
ao segundo andar de suas casas de boneca sem ter que andar sobre seus pés
anormalmente inclinados.
A casa foi construída na minha estante, e eu vinha desejando um elevador
desde que eu consigo me lembrar. A Casa dos Sonhos da Barbie oficial tinha um
feito de plástico, mas não importava o quanto eu implorasse aos meus pais, eles
não comprariam. Não a Casa dos Sonhos. Era muito cara.
Então Cricket assumiu isso, e fez um para mim. Enquanto Calliope e eu
decorávamos minha estante com abajures feitos de tampas de pasta de dente e
tapetes persas feitos de amostras de carpetes, Cricket criou um elevador que
realmente funcionava. Molinetes, alavancas e engrenagens vinham a ele tão
naturalmente quanto sua respiração.
O elevador tinha completado seu primeiro passeio. A Barbie Veterinária
estava aproveitando o segundo andar e Calliope estava descendo o elevador para
buscar Skipper, eu fiquei nas pontas dos pés, e plantei um beijo em seu muito
surpreso irmão.
Cricket Bell me beijou de volta.
Ele tinha gosto dos biscoitos mornos que Andy tinha trazido para nós. Seus
lábios estavam sujos de cristais de açúcar azul. E quando nos separamos, ele
cambaleou. Mas nosso romance foi tão rápido quanto nosso beijo. Calliope nos
proclamou “revoltantes” e voltou balançando para a casa deles, carregando
Cricket atrás dela. E eu decidi que ela estava certa. Porque Calliope era o tipo de
garota que você queria impressionar, o que significava que ela estava sempre
certa. Então eu decidi que garotos eram nojentos e que eu nunca namoraria um.
Certamente não o seu irmão.
Não muito depois do incidente do elevador, Calliope decidiu que eu era
nojenta também e minha amizade com os gêmeos chegou ao fim. Eu imagino
que Cricket cumpriu com o arranjo da maneira mais fácil para qualquer pessoa
sob a influência de alguém com a personalidade mais forte.
Por muitos anos, nós não nos falamos. O contato era limitado em ouvir a
porta da garagem bater e pelos vislumbres através das janelas. Calliope sempre
tinha sido uma ginasta talentosa, mas o dia em que ela trocou por patinação
artística, ela explodiu em um campeonato completamente diferente. Seus pais se
gabaram com os meus a respeito de seu potencial, e a vida dela tornou-se uma
longa sessão de treino. E Cricket, muito jovem para ficar em casa sem os pais,
foi com ela.
Nas raras ocasiões em que ele estava em casa, ele se ocupava dentro de seu
quarto, construindo engenhocas peculiares que voavam, queimavam e zumbiam.Algumas vezes, ele testava uma no espaço entre nossas casas. Eu ouvia uma
explosão, que me levava a correr até minha janela. Então, somente então, nós
trocávamos secretos sorrisos amigáveis.
Quando eu tinha doze anos, a família Bell se mudou por dois anos.
Treinamento para Calliope. Quando eles voltaram, os gêmeos estavam
diferentes. Mais velhos. Calliope floresceu na beleza que a vizinhança já
esperava. Confiança irradiava de cada poro, cada quadrante dos ombros. Eu
estava aterrorizada. Muito intimidada para falar com ela, mas eu conversava
ocasionalmente com Cricket. Ele não era bonito como sua irmã. O que tornava
Calliope esbelta tornou seu irmão desajeitado. E ele tinha acne, e hábitos
peculiares de alguém desacostumado a socializar. Ele falava muito, e rápido.
Mas eu apreciava sua companhia, ele parecia apreciar a minha. Nós estávamos
na beira de uma amizade verdadeira quando os Bells se mudaram novamente.
Eles voltaram apenas alguns meses depois, no primeiro dia de verão antes do
meu ano de caloura. Eu faria quinze anos em Agosto, e os gêmeos, dezesseis, em
Setembro. Calliope parecia exatamente à mesma de antes de partir.
Mas, mais uma vez, Cricket havia mudado.
Lindsey e eu estávamos em minha varanda, tomando Cherry Garcia16 em
cones de waffles, quando um carro parou na casa ao lado e dele saiu Cricket Bell
como eu nunca tinha visto antes, uma longa perna delineada após a outra.
16 É um tipo de sorvete
Alguma coisa bem no fundo de mim cambaleou.
A agitação foi tão surpreendente e desagradável quanto foi emocionante e
revolucionária. Eu já sabia que aquela imagem - suas pernas, aquelas calças -
ficariam marcadas em minha mente para o resto da minha vida. O momento foi
profundo desse jeito. Lindsey acenou um olá brilhante. Cricket olhou para cima,
desconcertado, e seus olhos encontraram os meus.
Foi isso. Eu já era.
Nós seguramos o olhar por mais tempo do que era normal e aceitável, antes
que ele virasse para Lindsey e erguesse sua mão em um aceno tranqüilo. Sua
família se materializou do carro, falando todos de uma vez, e sua atenção
desviou-se para eles. Mas não sem antes outro olhar em minha direção. E então
outro, ainda mais rápido, antes de desaparecer na casa Vitoriana.
Peguei a mão de Lindsey e apertei firmemente. Nossos dedos estavam
pegajosos de sorvete. Ela sabia. Tudo o que precisava ser dito foi falado na
maneira que me agarrei a ela.
Ela sorriu — Uh-oh
O contato verbal aconteceu naquela mesma noite. A coisa chata é que eu não
me lembro mais o que eu estava vestindo, mas lembro que foi escolhido
cuidadosamente, antecipando um encontro. Quando eu finalmente puxei minhas
cortinas para o lado, não fiquei surpresa de descobri-lo em sua janela, encarandoa minha. Claro que ele estava. Mas ele foi pego de surpresa pela minha
aparência. Mesmo o seu cabelo parecia mais assustado do que o habitual.
— Eu estava... Pegando um ar fresco — eu disse.
— Eu também — Cricket concordou e acrescentou um suspiro, grande e
exagerado.
Eu ainda não tenho certeza se foi uma piada, mas eu ri. Ele me deu um
sorriso nervoso em retorno, que rapidamente se quebrou em seu sorriso super
poderoso. Ele nunca teve nenhum controle sobre isso. De perto, vi que sua acne
tinha desaparecido, e seu rosto tinha amadurecido. Nós permanecemos lá,
sorrindo como bobos. O que você diz a alguém que não é o mesmo, e ainda
assim é completamente igual? Eu tinha mudado também, ou foi só ele?
Cricket foi embora primeiro. Alguma desculpa sobre ajudar sua mãe a
desempacotar a louça. Eu jurei começar uma conversa no dia seguinte, mas...
Sua proximidade congelou meu cérebro, amarrou minha língua. Ele não se saiu
muito melhor.
Então nós acenamos.
Nós nunca tínhamos acenado através de nossas janelas antes, mas era
inevitávelmente claro que nossa presença era estranha um para o outro. Então,
fomos forçados a reconhecer um ao outro dia e noite, ainda não tendo nada a
dizer, mas querendo dizer tudo.
Levou semanas até que essa tortura silenciosa mudou. Betsy e eu estávamos
saindo de casa enquanto ele estava passeando ao redor, as calças listradas e seu
cabelo parecendo querer tocar o céu.
Nós paramos timidamente.
— É bom ver você — ele disse. — Aqui fora. Ao invés de lá dentro. Você
sabe.
Eu sorri para que ele soubesse que eu sabia. — Eu estou levando-a para uma
caminhada. Você não gostaria de se juntar?
— Sim
... A nós? — Meu coração vibrou.
Cricket desviou o olhar. — Sim, nós poderíamos caminhar. Deveríamos
caminhar.
Eu desviei meu olhar também, tentando controlar o rubor. — Você precisa
deixar isso aí?
Ele estava carregando um saco de papel da loja de ferramentas. — Oh sim,
espere um pouco. — Cricket correu pelas escadas, mas parou pela metade. —
Espere bem aqui. — Ele saltou dentro de casa e voltou alguns segundos depois.
Ele carregava dois Blow Pops.
— É tão vergonhoso — ele falou. — Sinto muito.
— Não, eu amo isso — então ruborizei, por ter usado a palavra amor.
Nossas línguas ficaram verdes-maçã-verde, mas nós conversamos por tantotempo que quando voltamos para casa, estavam cor de rosa novamente. O
sentimento dentro de mim cresceu. Começamos a nos esbarrar, no mesmo
horário, todas as tardes. Ele fingia estar fazendo algo, eu fingia estar surpresa, e
então ele se juntava a Betsy e eu em nossa caminhada. Um dia, ele não
apareceu. Fiz uma pausa antes de sua casa, desapontada, e olhei para cima e
para baixo em nossa rua. Betsy se esticou para frente em sua coleira. A porta dos
Bells se abriu bruscamente, e Cricket desceu tão rápido que ele quase caiu em
cima de mim. Eu sorri. — Você está atrasado.
— Você esperou.
Ele torceu as mãos. Nós paramos de fingir. Cricket definia as horas do meu
dia. A hora que eu abria as cortinas, na mesma hora que ele abria a sua, para que
pudéssemos compartilhar um — olá — pela manhã. A hora que eu almoçava de
modo que eu pudesse vê-lo almoçando. A hora que eu saía de casa para a nossa
caminhada. A hora que eu ligava para Lindsey para falar da nossa caminhada. E
a hora depois do jantar quando Cricket e eu conversamos antes de fechar nossas
cortinas novamente.
À noite, eu deitava na cama e imaginava-o deitado na sua. Ele estava
pensando em mim, também? Será que ele imaginava se esgueirar para o meu
quarto como eu imaginava entrar no seu? Se estivéssemos sozinhos no escuro,
invés da luz do dia, ele iria encontrar a coragem de me beijar? Eu queria que ele
me beijasse. Ele era o menino. Ele deveria dar o primeiro passo.
Por que ele não deu o primeiro passo? Quanto tempo eu teria que esperar?
Esses pensamentos febris me mantiveram acordada durante todo o verão. Eu
levantava de manhã, suada, sem lembrar quando finalmente adormecia e não
me lembrava dos meus sonhos, além de três palavras que ecoavam na minha
cabeça, em sua voz. Eu preciso de você.
Precisar. Que palavra poderosa e assustadora. Ela representava os meus
sentimentos por ele, mas todas as noites, os meus sonhos me colocavam dentro
de sua boca.
Eu precisava que ele me tocasse. Eu estava obcecada com a maneira como
suas mãos nunca paravam de se mover. A maneira como ele esfregava-as
juntas quando ele estava animado, a maneira como ele às vezes não podia deixar
de bater palmas. A maneira como ele tinha mensagens secretas escritas na parte
de trás da sua mão esquerda. E os dedos. Longos e selvagens, mas eu sabia por
observá-lo construindo suas máquinas que era também delicado, cuidadoso,
preciso. Eu fantasiava sobre os seus dedos.
E eu estava consumida pela maneira com que, sempre que ele falava, seus
olhos brilhavam como se fosse o melhor dia da sua vida. E durante o caminho
todo seu corpo inclinava-se para a mim quando eu falava, um gesto que
mostrava que ele estava interessado, ele estava ouvindo. Ninguém nunca tinha
movido o corpo para me enfrentar assim como ele o fez.O verão passava rápido, cada dia mais angustiante e maravilhoso que o
anterior. Ele começou a andar com Lindsey e os meus pais, até mesmo com
Norah, quando ela estava por perto. Ele estava entrando em meu mundo. Mas
cada vez que eu tentava entrar no seu, Calliope era hostil. Fria. Às vezes, ela
fingia que eu não estava na sala, às vezes ela saía enquanto eu estava falando.
Esta foi à primeira vez que ele escolheu alguém sobre ela, e ela se ressentia
comigo. Eu estava roubando seu melhor amigo. Eu era uma ameaça.
Ao invés de confrontá-la, nós nos retiramos para a segurança da minha casa.
Mas... Ele ainda não tinha feito nenhum movimento. Lindsey supôs que ele
estava esperando o momento certo, algo significante. Talvez meu aniversário. O
dele era exatamente um mês após o meu, também no dia vinte, então ele sempre
lembraria. Naquela manhã, eu fiquei impressionada ao ver um sinal em seu
vidro: Feliz aniversário Lola! Nós temos a mesma idade outra vez!
Inclinei-me para fora da janela. — Por um mês
Ele apareceu com um sorriso, suas mãos se esfregando. — É um bom mês.
— Eu tenho certeza que você vai se esquecer de mim quando fizer 16 — eu o
provocava.
— Impossível. — Sua voz falhou, e isso balançou meu coração.
Andy levou Betsy para caminhar à tarde para que pudéssemos ter liberdade
completa. Cricket me cumprimentou no horário de sempre, erguendo duas caixas
de pizza sobre sua cabeça. Eu estava prestes a dizer que eu ainda estava cheia do
almoço quando...
— Estão cheias ou vazias? — A minha pergunta era maliciosa. Eu tive um
sentimento que aquilo não era pizza.
Ele abriu a caixa e sorriu. — Vazias.
— Eu não estive lá em anos!
— O mesmo aqui. Calliope e eu estávamos com você, provavelmente, a
última vez que fui.
Nós corríamos morro abaixo, em direção ao parque do outro lado da nossa
rua - que era pequeno e espremido entre duas casas - passando pela placa
pintada com spray com um aviso PROIBIDO ADULTOS! SOMENTE SE
ACOMPANHADO DE UMA CRIANÇA e para a parte superior do declive da
rua Seward.
— Oh Céus — eu tive um arrepio de terror. — Isso sempre foi tão íngreme?
Cricket desdobrou as caixas e colocou-as ao longo do chão sujo, viradas para
baixo, uma em cada escorregador estreito de concreto. — Eu quero a esquerda.
Eu sentei na minha caixa. — Chato ser você. O lado direito é mais rápido.
— Jamais! O lado esquerdo sempre ganha.
— Diz o cara que não esteve aqui desde os seis anos. Mantenha seus braços
dobrados.
Ele riu. — Não há jeito de eu ter esquecido esses arranhões e queimaduras.Na contagem de três, nós largamos. Os escorregadores eram pequenos e
rápidos e nós voamos para baixo, segurando nossos gritos para não perturbar
Seward Witch, a malvada senhora que gritava obscenidades às pessoas que se
divertiam muito alto - apenas outra razão para os escorregadores serem tão
divertidos. O pé de Cricket voou primeiro, seguido rapidamente de sua bunda. Ele
atingiu o chão com um leve barulho que nos fez rolar de rir.
— Eu acho que a minha bunda está soltando fumaça — ele disse.
Eu reprimi o comentário óbvio, que suas calças tinham tornado esse fato
abundantemente claro em Junho.
Nós ficamos por meia hora, dividindo os escorregadores com dois caras de
uns vinte anos que estavam bêbados, um grupo de mães e crianças pré-escolares.
Nós estávamos aguardando atrás das mães, próximos de irmos pela última vez,
quando eu ouvi risos. Eu olhei por cima do meu ombro e vi a chegada de três
garotas da escola. Meu coração parou.
— Belo vestido — disse Marta Velazquez. — É da sua mamãe?
Eu estava vestindo um vestido de época de bolinhas - tão grande que eu havia
apertado com alfinetes - sobre uma camisa listrada de manga comprida e calças
jeans.
Eu quis estar bonita para meu aniversário.
Eu não me sentia mais bonita.
Cricket se virou, confuso. E então... Ele fez algo que mudou tudo. Ele pisou
deliberadamente na frente delas e bloqueou minha visão. — Não dê ouvidos a
elas. Eu gosto de como você se veste.
Ele gostava de mim pelo que eu era.
Eu me sentei calada em minha caixa de pizza. — É a nossa vez
Mas o que me doía para dizer era: eu preciso de você.
No caminho para casa, ele me manteve rindo e fazendo piadas sobre as
pessoas que vinham me atormentando por anos. Eu finalmente percebi o quão
absurdo era que eu me preocupasse tanto com o que meus colegas de classe
pensavam sobre mim. Não era como se eu quisesse parecer como eles.
— Cricket — Andy disse quando nos viu chegando. — Você vem hoje para o
jantar de aniversário, certo?
Eu olhei para ele esperançosamente. Ele colocou as mãos no bolso. — Claro!
Era simples e perfeito. Meus únicos convidados eram Nathan, Andy, Lindsey
e Criket. Nós comemos pizza marguerita, seguida por um extravagante bolo em
forma de coroa. Eu comi o primeiro pedaço, Cricket comeu o maior. Depois,
caminhei com meus amigos até lá fora. Lindsey me deu uma cotovelada nas
costas e desapareceu.
Cricket arrastou os pés. — Eu não sou bom com presentes
Meu coração pulou. Mas ao invés de um beijo, ele tirou um punhado de peças
de relógio e embalagens de doces do bolso. Cricket peneirou a pilha até queencontrou uma tampa de garrafa de refrigerante, rosa metálico. Ele ergueu-a. —
Sua primeira.
Talvez a maioria das meninas já estivesse desapontada, mas eu não sou a
maioria das meninas. Nós tínhamos visto recentemente um cinto feito de
tampinhas de garrafa em uma vitrine, e eu disse que queria fazer um. — Você se
lembrou!
Cricket sorriu, aliviado. — Eu achei que era boa. Colorida — E enquanto ele
colocou na minha mão aberta, reli a mensagem rabiscada sobre as costas da
mão pela centésima vez naquele dia: AGORA.
Este era o momento.
Segurei a tampa e dei um passo adiante. Sua respiração acelerou. Assim
como a minha.
— Você prometeu que estaria lá!
Nós nos separamos. Calliope estava na varanda ao lado, aparentemente à
beira das lágrimas. — Eu precisei de você, e você não estava lá.
Um flash inconfundível de pânico nos olhos dele. — Oh Deus, Cal. Eu não
posso acreditar que eu esqueci.
Ela estava usando um casaco delicado, mas o jeito que ela cruzou os braços
não foi nada suave. — Você está esquecendo um monte de coisas ultimamente.
— Sinto muito. Fugiu da minha mente, eu sinto muito — Ele tentou agitar os
lacres e as peças de relógio no bolso, mas derrubou-os em minha varanda.
— Acalma-se, Cricket. — Ela olhou para mim e fez uma careta. — Eu não
sei por que você está desperdiçando seu tempo.
Mas ela ainda estava falando com ele.
— Obrigado pelo jantar — ele murmurou, empurrando tudo de volta nos
bolsos. — Feliz aniversário. — Ele saiu sem olhar para mim. De sua varanda,
Calliope ainda estava gritando. Senti como se tivesse tomado um tapa na cara.
Envergonhada. Eu não tinha nada para me envergonhar, mas ela tinha esse
efeito. Se ela quisesse que você sentisse algo, você sentiria.
Mais tarde, Cricket me disse que ele deveria ter ido para alguma reunião. Ele
foi vago a respeito. Depois disso, era como se tivéssemos dado um pequeno passo
para trás. Começamos a escola. Ele andava comigo e com Lindsey, enquanto
Calliope fez novos amigos. Havia uma tensão silenciosa entre os gêmeos. Cricket
não falava sobre isso, mas eu sabia que ele estava chateado.
Numa sexta-feira depois da escola, ele me mostrou um vídeo do Swiss Jolly
Ball - uma maravilha mecânica que vira enquanto visitava um museu em
Chicago. Eu não tinha estado dentro de sua casa desde o comportamento gelado
de Calliope no início do verão. Eu esperava que isso fosse uma desculpa para ir a
seu quarto, mas seu laptop estava na sala de estar. Ele se sentou em um lado de
um sofá pequeno, deixando espaço para me sentar ao lado dele. Era um convite?
Ou um gesto de bondade, em que ele estava me oferecendo o maior sofá dasala? Por que isso era tão difícil?
Eu aproveitei a oportunidade e sentei ao lado dele. Cricket colocou o vídeo, e
eu cheguei mais perto, sob o pretexto de vê-lo melhor. Não conseguia me
concentrar, mas enquanto a bola da máquina de prata atravessa os túneis,
apitava, e ampliava-se em faixas, eu ri de deleite de qualquer maneira.
Aproximei-me mais até que eu estava no vão entre as almofadas. Eu cheirava a
menor pontada de seu suor, mas não era ruim. Era muito longe de ser ruim. E
então o lado da minha mão roçou ao lado da sua, e meu coração entrou em
colapso.
Ele estava muito quieto.
Limpei a garganta. — Você está fazendo algo especial para seu aniversário
amanhã?
— Não. — Ele moveu a mão em seu colo, afobado. — Nada. Eu não vou
fazer nada.
— Ok... — Eu olhei para sua mão.
— Na verdade, Calliope tem alguma coisa de patinação. Então vai ser mais
uma tarde de comidas ruins, vendedores de patins, e meninas estridentes.
Isso foi uma desculpa para me evitar? E se eu estivesse errada esse tempo
todo? Fui para casa chateada e liguei para Lindsey .
— De jeito nenhum — ela disse. — Ele gosta de você.
— Você não o viu. Ele está agindo de modo estranho e cauteloso.
Mas na manhã seguinte, eu me encontrei com Lindsey para encontrar um
presente para ele. Eu não estava pronta para desistir. Eu não podia desistir. Eu
sabia que ele precisava de uma chave obscura para um projeto, e eu também
sabia que ele estava tendo problemas para encontrá-la online. Passamos o dia
todo caçando em lojas da cidade especializadas, e enquanto eu caminhava para
casa naquela noite tão orgulhosa de obter uma, senti uma esperança nervosa. E
então eu vi. Uma festa em pleno andamento.
A casa dos Bell estava barulhenta e lotada, e havia cordões de luzes tiki
penduradas em suas janelas. Esta não foi uma festa que aconteceu no último
segundo. Foi uma festa planejada. Uma festa planejada que eu não tinha sido
convidada.
Eu congelei lá, arrasada, segurando a pequena chave no meio do espetáculo.
Um bando de meninas correram por mim e subiram as escadas. Como os
gêmeos tinham feito tantos novos amigos tão rapidamente? As meninas bateram
na porta, e Calliope abriu e cumprimentou-os com uma risada. Elas passaram
por ela e entraram na casa. E foi aí que ela me viu, olhando para cima da
calçada.
Ela fez uma pausa, e então fez uma careta. — E aí? Você é boa demais para
a nossa festa?
— O-o quê?— Você sabe, depois de passar tanto tempo com meu irmão, parece que o
mínimo que você poderia fazer é aparecer e lhe desejar um feliz aniversário.
Minha mente vacilava. — Eu não fui convidada.
A expressão de Calliope era de surpresa. — Mas Cricket disse que você não
poderia vir.
Explosão. Dor. — Eu... Ele não perguntou. Não.
— Huh. — Ela me olhou nervosamente. — Bem. Tchau.
A porta lavanda se fechou. Olhei para ela, queimando com dor e humilhação.
Por que ele não me quis em sua festa? Eu tropecei dentro da minha casa, fechei
as minhas cortinas, e explodi em soluços violentos. O que tinha acontecido? O que
havia de errado comigo? Por que ele não gostava mais de mim?
Sua luz acendeu à meia-noite. Ele chamou meu nome.
Eu tentei focar no golpe catastrófico dentro do meu peito. Ele chamou meu
nome novamente. Eu queria ignorá-lo, mas como eu poderia? Eu abri minha
janela.
Cricket olhou para seus pés. — Então, um, o que você fez hoje?
— Nada — Minha voz era curta enquanto eu respondia. — Eu não fiz nada.
Ele parecia transtornado. Isso só me fez desprezá-lo mais, tentar me fazer
sentir culpada.
— Boa noite. — Eu comecei a fechar a minha janela.
— Espere! — Ele puxou o cabelo dele, deixando-o mais alto. — E-eu acabei
de descobrir que estou me mudando.
Era como se eu tivesse apanhado na cabeça. Eu pisquei, surpresa ao
descobrir lágrimas frescas. — Você está indo embora? Mais uma vez?
— Segunda-feira.
— Dois dias a partir de agora? — Por que eu não podia parar de chorar? Eu
era uma idiota!
— Calliope está voltando para seu antigo treinador. — Ele parecia impotente.
— Não está funcionando aqui.
— Não há nada funcionando aqui? — Eu soltei. — Não há nada que você
queira me dizer antes de ir?
Os lábios de Cricket se separaram, mas ele permaneceu em silêncio. Seu
rosto era uma equação difícil. Um minuto inteiro se passou, talvez dois. — Pelo
menos temos isso em comum — Eu finalmente disse. — Não há nada que eu
quero dizer para você também.
E eu bati minha janela.

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