— Será ótimo para as batalhas de banda — Max diz, com mais animação do
que o normal. — Você sabe como era ruim, carregar nossas coisas em três
carros separados. O estacionamento nessa cidade é impossível para começar.
— Excelente! Certo! Exatamente!
É uma van. Max comprou uma van. É grande, e é branca, e é uma van.
Como em, não é um Chevy Impala ‘64. Como meu namorado trocou seu carro
para comprar uma van?
Ele anda em volta dela, admirando sua… O quê? Larga expansão? — Você
sabe que nós sempre quisemos fazer uma viagem pelo litoral. Craig conhece
alguns caras em Portland, Johnny conhece alguns caras em L.A. Isso era o que
precisávamos. Nós podemos fazer agora.
— Viajar! Uau! Ótimo!
VIAJAR. Longos períodos de tempo sem Max. Mulheres provocantes,
solícitas em outras cidades flertando com meu namorado, lembrando a ele sobre
a minha inexperiência. VIAGEM.
Max para. — Lola.
— Hmm?
— Você está fazendo aquela coisa de garota. Dizendo que você está feliz,
quando não está. — Ele cruza os braços. As teias de aranha tatuadas em seus
cotovelos apontam para mim acusadoramente.
— Eu estou feliz.
— Você está chateada, por que você pensa que quando eu for, vou conhecer
alguém. Alguém mais velho.
— Não estou irritada. — Estou preocupada. E como eu odeio que já
tenhamos tido essa conversa antes, já que agora ele sabe exatamente o que estou
pensando? — Estou… Surpresa. Eu só gostava do seu velho carro, é isso. Mas
esse é bom, também.
Ele levanta uma única sobrancelha. — Você gostou do meu carro?
— Eu amei seu carro.
— Você sabe. — Max me encosta ao meu lado. O metal está frio contra
minha espinha. — Vans são boas para outras coisas.
— Outras coisas?
— Outras coisas.
Okay. Talvez toda essa situação com a van não seja uma perda completa.
Minhas mãos estão em seu cabelo desbotado branco amarelado, e nossos lábios
estão esmagados um contra o outro quando ouvimos um alto, rude — Tem algum
trocado, cara?
Nos separamos para encontrar um cara vestido dos pés à cabeça com uma
roupa suja e feita de retalhos de algodão grosso, nos encarando.— Desculpe — eu digo.
— Não precisa se desculpar. — Ele me olha com uma expressão de raiva por
baixo de seus dreadlocks brancos. — Só estou fodidamente faminto.
— IMBECIL — Max grita assim que o cara cai fora.
A quantidade de mendigos em São Francisco está positivamente aumentando.
Eu não consigo caminhar de casa para escola sem passar por uma dúzia. Eles me
deixam desconfortável, por que são uma lembrança constante das minhas
origens, mas normalmente consigo ignorá-los. Olhar através deles. Caso
contrario… É muito exaustivo.
Mas no Haight, os mendigos são idiotas passivo-agressivos.
Eu não gosto de vir aqui, mas Max tem amigos que trabalham em boutiques
de roupas vintage com preços superestimados, tabacarias, livrarias, e lanchonetes
de burritos. Apesar de seus grafites psicodélicos e da exposição de janelas
boêmias, A rua Haight - uma vez a Mecca da paz e do amor dos anos 60 - é
inegavelmente mais violenta e suja do que o resto da cidade.
— Ei. Esqueça aquele cara.
Ele vê que eu preciso ser animada, então ele me leva à loja dos falafels onde
nós tivemos o nosso primeiro encontro. Mais tarde, nós andamos até uma loja
drag para experimentar perucas. Ele ri quando eu poso com uma absurda
colméia roxa. Eu amo sua risada. É rara, então sempre que eu a ouço, eu sei que
a merecei. Ele até me deixa colocar uma em sua cabeça, uma Marily n loira. —
Espere até Johnny e Craig te verem — digo, me referindo a seus companheiros
de banda.
— Vou dizer a eles que decidi deixar crescer.
— ROGAINE WORKS — eu digo na minha melhor imitação de sua voz.
— Essa é outra piada de velho? — Max ri de novo enquanto joga de volta
minha pálida peruca rosa. — Nós temos que ir. Eu falei pro Johnny que o
encontraria às três e meia. — Eu enrolei meu cabelo de verdade embaixo dela.
— Por que você não o vê o suficiente em casa.
— Você raramente o vê — Max diz.
Johnny Ocampo - baterista do Anphetamine, colega de quarto de Max -
trabalha na gravadora Amoeba, a única coisa que eu realmente amo nesse
bairro. Amoeba é um vasto paraíso de concreto de raros vinís, pôsteres de
bandas, e infinitas fileiras de CDs com etiquetas com cada gênero identificado
por cores. Ainda há alguma coisa a ser dita sobre música que você consegue
pegar nas mãos.
— Eu só estava te provocando. Além disso — eu adicionei — você nunca sai
com a Lindsey .
— Por favor Lo. Ela é fofoqueira e imatura. É estranho entre nós.
Suas palavras são verdadeiras, mas… Ai. Às vezes mentir é a coisa educada
a se fazer. Eu franzi a testa. — Ela é minha melhor amiga.— Eu só preferiria passar um tempo com você. — Max pega minha mão. —
A sós.
Nós estávamos quietos quando entramos na Amoeba. Johnny, um atarracado,
mas musculoso Filipino, está em seu lugar de costume atrás da mesa de
informações, que foi criada como se os caras atrás dela guardassem toda a
verdade sobre Bom Gosto Musical e Conhecimento. Johnny e Max trocam
acenos sutis de cabeça em reconhecimento enquanto Johnny termina com um
cliente. Eu aceno para Johnny e desapareço na loja. Eu ouço principalmente
rock, mas eu busco tudo, porque nunca se sabe quando eu vou descobrir alguma
coisa que eu não sabia que gostava. Hip-hop, clássica, reggae, punk, opera,
eletrônica. Nada prende a minha atenção hoje, então eu volto para o rock. Estou
procurando nos P‘s e Q‘s, quando os pequenos pêlos, invisíveis na minha nuca
ficam eriçados. Eu olho pra cima.
E lá está ele.
Cricket Bell está parado olhando pra frente, focado. Procurando por alguma
coisa. Alguém. E Então seu olhar se prende ao meu, e seu rosto se acende como
as estrelas. Ele sorri - um sorriso completo que alcança todo o caminho até seus
olhos - e é doce, puro e esperançoso.
E eu sei o que está para acontecer.
Minhas mãos começam a suar. Não diga. Oh, por favor Deus, não diga. Mas
esse pedido traidor vem logo depois: Diga. Diga.
Cricket desliza facilmente entre os outros clientes como se fossemos as únicas
duas pessoas na loja. A música das caixas de som muda de uma música pop
austera para uma sinfonia de rock intensa. Meu coração bate cada vez mais
rápido. Quão fortemente eu uma vez desejei por esse momento. Quão
fortemente eu queria que acabasse agora.
Quão fortemente eu queria que continuasse.
Ele parou diante de mim, mexendo em suas pulseiras. — Eu - Eu esperava
encontrá-la aqui.
Rubor invade minhas bochechas. NÃO. Esse sentimento não é real. É uma
velha sensação que voltou para me atormentar e confundir. Odeio isso. Eu o
odeio!
Mas é claro que eu só odeio Cricket porque eu não odeio Cricket. Eu olho pra
baixo, para o álbum do Phoenix em minhas mãos. — Eu te disse que estava vindo
pra cá.
— Eu sei. E não podia esperar mais, eu tenho que te contar...
O pânico aumenta, e eu seguro a banda francesa mais apertada. — Cricket,
por favor...
Mas suas palavras são despejadas sobre em mim em um turbilhão. — Eu não
consigo parar de pensar em você, e eu não sou mais quem costumava ser, eu
mudei...— Cricket... — eu olhei pra cima novamente, sentindo tontura.
Seus olhos azuis são brilhantes. Sinceros. Desesperados. — Saia comigo hoje
à noite. Amanhã à noite, todas as noi... — A palavra é cortada em sua garganta
quando ele vê alguma coisa atrás de mim.
Cigarros e hortelã. Eu quero morrer.
— Esse é Max. Meu namorado. Max, esse é Cricket Bell.
Max mexe levemente sua cabeça em um pequeno aceno. Ele ouviu tudo, não
tem como não ter ouvido.
— Cricket é meu vizinho. — Viro-me para Max. — Era meu vizinho. Meio
que é de novo.
Meu namorado estreita os olhos, quase que imperceptivelmente, enquanto sua
mente absorve essa informação. É o exato oposto de Cricket que é uma
verdadeira negação em esconder seus sentimentos. Seu rosto demonstra dor, e
ele está se afastando. Eu imagino que ele nem perceba que está fazendo isso.
A expressão de Max muda de novo, quase imperceptível. Ele imagina quem
seja Cricket. Ele sabe que Cricket Bell deve ser parente de Calliope Bell.
E ele sabe que eu tenho propositadamente excluido-o de nossas conversas.
Max coloca um braço em volta de meus ombros. O gesto provavelmente
parece casual para Cricket, mas os músculos de Max estão rígidos. Ele está com
ciúmes. Esse pensamento deveria me deixar feliz, mas eu só consigo ver a
vergonha de Cricket. Eu queria não ligar para o que ele pensa.
Isso significa que estamos quites? É assim que é a sensação de estar quites?
O ar entre nós é denso como a neblina da baía. Eu tenho que agir, então dou a
Cricket um sorriso reconfortante. — Foi bom encontrar com você. Te vejo outra
hora, ok? — E então eu levei Max para longe. Eu posso dizer que meu namorado
quer dizer alguma coisa, mas como sempre, ele está mantendo seus pensamentos
para si mesmo até que estejam formados da maneira exata que ele os quer. Nós
andamos de maneira tensa, de mãos dadas, passando por seu amigo na mesa de
informações.
Não quero olhar pra trás, mas não posso evitar.
Ele está me encarando. Encarando através de mim. Pela primeira vez,
Cricket Bell parece pequeno. Ele está desaparecendo bem diante de meus olhos.

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