- Ter histórico de tentativas de suicídio
- Ameaçar se matar verbalmente
- Desfazer-se de objetos estimados
- Buscar e discutir formas de se matar
- Exprimir desesperança a respeito de si mesmo ou do mundo
- Escrever, falar, ler e desenhar coisas que tenham por tema a morte e a
depressão
- Sugerir que não sentiriam sua falta em caso de morte
- Machucar o próprio corpo
- Ter perdido recentemente um amigo ou um ente familiar por doença ou
suicídio
- Piorar o desempenho acadêmico súbita e drasticamente
- Ter distúrbios alimentares, insônia, excesso de sono, dores de cabeça
crônicas
- Usar (ou abusar) de substâncias que alteram a percepção
- Não demonstrar interesse por sexo, hobbies e outras atividades
apreciadas anteriormente
Alasca apresentava dois desses sinais de risco. Tinha perdido a mãe,
embora não muito recentemente. E seus porres, sempre constantes, decerto
tinham se agravado em seu último mês de vida. Ela falava em morrer, mas
sempre parecia estar brincando, pelo menos em parte.
“Eu faço piada sobre isso o tempo todo”, o Coronel disse. “Semana
passada, falei que ia me enforcar com a gravata. Mas não vou me matar. Então
essa não conta. Ela não se desfez de nada e, com certeza, não perdeu o interesse
por sexo. A pessoa tem de gostar muito de sexo para querer beijar um magricela
com você.”
“Que engraçado”, eu disse.
“Eu sei. Meu Deus, sou um gênio. As notas dela eram boas. E também
não me lembro de ela falar em suicídio.”
“Teve uma vez, lembra? Sobre os cigarros? ‘Vocês fumam para
saborear. Eu fumo para morrer.’”
“Isso foi uma piada.”Mas, incitado pelo Coronel, talvez querendo lhe mostrar que eu me
lembrava da Alasca tal como ela realmente era e não apenas como eu queria
que fosse, mencionei as vezes em que ela fora cruel e mal-humorada, quando
não quisera responder às perguntas com como, quando, por que, quem e o quê.
“Às vezes ela ficava tão zangada!”, pensei em voz alta.
“O quê? E eu não fico?”, o Coronel retorquiu. “Eu fico zangado o tempo
todo, Gordo. E você também não tem sido um poço de serenidade, mas isso não
significa que você vai se matar. Ou vai?”
“Não”, eu disse. E talvez fosse apenas porque a Alasca não conseguia
pisar no freio e eu no acelerador. Talvez ela possuísse um tipo estranho de
coragem que me faltava, mas não.
“Fico feliz em ouvir isso. Mas é. Ela tinha seus altos e baixos – do fogo e
do enxofre à fumaça e às cinzas. Mas, pelo menos este ano, isso foi em parte por
causa da Mary a. Olha só, Gordo, ela obviamente não estava pensando em se
matar quando beijou você. Depois disso, ela dormiu até o telefone tocar. Então
deve ter resolvido se matar em algum momento entre o telefonema e a batida.
Ou foi um acidente.”
“Mas por que se afastar dez quilômetros do campus para se matar?”,
perguntei.
Ele suspirou e balançou a cabeça. “Ela gostava de um mistério. Talvez
quisesse que fosse assim.” Eu ri, e o Coronel disse: “O que foi?” “Estava
pensando: Por que alguém se choca de frente contra um carro de polícia com a
sirene ligada?, então pensei: Bem, ela odiava as figuras de autoridade.”
O Coronel riu. “Olha só. O Gordo fez uma piadinha!”
Foi quase natural. A distância entre mim e o ocorrido pareceu evaporar,
e eu me vi novamente no ginásio, ouvindo a notícia pela primeira vez, as
lágrimas do Águia pingando em sua calça. Olhei para o Coronel e pensei em todo
o tempo que tínhamos perdido naquele sofá de espuma nas últimas duas semanas
– e em tudo o que ela tinha estragado. Irritado demais para chorar, eu disse: “Isso
só está me fazendo odiá-la. Não quero odiá-la. Para que continuar com isso, se
vou me sentir assim?” Ela ainda se negava a responder aos “comos” e aos "por
quês”. Ainda teimava em se envolver numa aura de mistério.
Inclinei-me para a frente, a cabeça entre os joelhos, e o Coronel colocou
a mão em minhas costas, logo abaixo da nuca. “Sempre há uma resposta,
Gordo.” Soprou o ar com força por entre os lábios encrespados, e pude ouvir o
tremor de raiva em sua voz enquanto ele repetia: “Sempre há uma resposta. Só
precisamos ser espertos. Vimos na internet que o suicídio geralmente envolve
planos bem-elaborados. Então, obviamente, ela não se suicidou.” Senti-me
envergonhado por ainda estar em frangalhos depois de duas semanas enquanto o
Coronel tomava seu remédio estoicamente. Aprumei as costas.
‘Tudo bem”, respondi. “Então não foi suicídio.”“Mas, por outro lado, também não faz sentido ter sido acidente o Coronel
disse.
Eu ri. “Estávamos fazendo grande progresso.”
Fomos interrompidos por Holly Moser, a veterana que eu conhecia
principalmente porque tê-la visto nua em seus autorretratos durante o feriado de
Ação De Graças com Alasca. Holly ficava com os Guerreiros de Dia de
semana, o que explicava o fato de eu ter trocado apenas duas palavras com ela
em toda minha vida. Mesmo assim, ela entrou sem bater e disse que tivera um
sinal místico da presença de Alasca.
“Eu estava na Casa do Waffle e, de repente, todas as luzes se apagaram,
exceto a lâmpada acima da minha mesa, que começou a piscar. A lâmpada
ficou acessa por um tempo, depois se apagou, depois se acendeu, tipo, por uns
dois segundos, depois se apagou. Foi então que eu percebi que era a Alasca. Acho
que ela estava tentando se comunicar comigo com código Morse. Mas, tipo, eu
não conheço o código Morse. Ela provavelmente não sabia disso. Que seja.
Achei que vocês gostariam de saber.”
“Obrigado”, eu disse, curto e grosso. Ela ficou ali parada por um tempo,
olhando para nós, a boca aberta como se fosse falar mais alguma coisa, e o
Coronel a encarou com os olhos semicerrados, o maxilar projetado para fora,
mal conseguindo conter sua raiva. Eu sabia o que ele estava sentindo: eu também
não acreditava em fantasmas que se comunicavam em código Morse com
pessoas de quem eles não gostavam. E eu odiava pensar que Alasca tranquilizaria
outra pessoa além de mim.
“Meu Deus, pessoas assim deveriam ser proibidas de viver”, ele disse
depois que ela saiu.
“Isso foi bem idiota.”
“Não é só idiota, Gorda. Como se a Alasca fosse falar com a Holly
Moser! Santo Deus! Odeio essa gente que finge estar triste. Vaca idiota.”
Quase lhe disse que Alasca não teria gostado de ouvir uma mulher sendo
chamada de vaca, mas era inútil discutir com o Coronel.

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